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DEUS, A LIBERDADE E O MAL
Um tratado sobre o amor, a dor e a redenção da existência
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Epígrafe
> “Deus é amor — e, por amor, concedeu à criatura o dom terrível da liberdade.
Pois somente o que é livre pode amar verdadeiramente.”
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PRÓLOGO — O MISTÉRIO DO AMOR
Antes de toda criação, antes de qualquer átomo vibrar no vazio,
havia o Amor.
Não como emoção, mas como ser —
a comunhão eterna do Pai, do Filho e do Espírito.
O universo nasceu não de necessidade,
mas de generosidade.
Deus não criou para possuir,
mas para compartilhar.
O amor, então, é o alicerce ontológico do ser —
a razão pela qual existe algo, e não o nada.
Mas eis o paradoxo:
o mesmo amor que cria, liberta.
E a liberdade, dom supremo,
abre a possibilidade do mal.
Assim começa o drama da história:
Deus, a Liberdade e o Mal.
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PARTE I — O PROBLEMA E O DOM
1. O escândalo do mal
O mal é o enigma que desafia a razão e fere a alma.
Como pode o Amor infinito permitir a dor finita?
Se Deus é bom, por que há tanto sofrimento?
William Lane Craig afirma: o mal não refuta Deus — o pressupõe.
Só se fala em “mal” quando há um “bem” que foi violado.
E esse bem objetivo só existe se há um fundamento moral transcendente —
isto é, Deus.
Sem Deus, o mal deixa de ser tragédia e torna-se apenas acidente.
Mas com Deus, o mal é ofensa, e toda ofensa pede redenção.
2. O dom terrível da liberdade
Deus criou o homem livre.
Livre para amar — e, portanto, livre para recusar o amor.
Sem essa liberdade, não há virtude, nem moralidade, nem comunhão.
Mas com ela, há risco.
O mal nasce da liberdade, não da vontade de Deus.
O Criador desejou um mundo de pessoas, não de marionetes.
E preferiu correr o risco da dor
a negar à criatura a dignidade de escolher.
Craig chama isso de a “defesa do livre-arbítrio”:
> “Deus pode ter razões morais suficientes para permitir o mal,
se o bem maior da liberdade torna possível o amor verdadeiro.”
3. O mal como ausência
O mal não tem substância própria — é sombra, não luz.
É o bem corrompido, o amor desordenado,
a liberdade desviada de seu fim.
O ódio precisa do amor para existir,
assim como a mentira precisa da verdade.
O mal é o parasita do bem —
a distorção daquilo que nasceu para ser santo.
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PARTE II — O DEUS QUE SOFRE
1. O silêncio de Deus
Há momentos em que Deus se cala.
Mas o silêncio divino não é ausência — é presença oculta.
Há dores que não pedem explicação, mas companheirismo.
Deus não oferece uma resposta fria ao sofrimento;
Ele oferece a si mesmo.
2. O Deus encarnado
Na cruz, o Logos eterno entra na história.
O Criador se torna criatura,
o Eterno prova o tempo,
o Inocente sofre pelos culpados.
Ali, o mal parece triunfar — mas é vencido no coração do próprio amor.
A cruz é o ponto onde o infinito toca o finito,
onde a justiça se beija com a misericórdia.
Craig vê nela não apenas um evento teológico,
mas a resposta filosófica ao problema do mal.
Pois o sofrimento de Cristo mostra que Deus não é alheio à dor —
Ele é o primeiro a carregá-la.
3. O paradoxo do amor
Amar o homem significou aceitar o risco de perdê-lo.
Redimi-lo significou suportar o peso de sua culpa.
Deus, que tudo pode,
decidiu vencer não pela força,
mas pela fraqueza.
O amor, em sua forma mais pura,
é cruciforme.
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PARTE III — A VITÓRIA FINAL DO AMOR
1. O crepúsculo da história
Um dia, o tempo cessará.
O drama da liberdade chegará ao fim.
Cada escolha humana será revelada —
e o amor, finalmente, compreenderá o que o mal tentou destruir.
Deus não apaga o passado: Ele o transfigura.
Até as dores terão sentido,
pois cada lágrima foi semente de eternidade.
2. A redenção da liberdade
A graça não anula a liberdade — a consuma.
Ser salvo é ser livre do próprio ego,
capaz de amar sem reservas.
Na eternidade, o livre-arbítrio não mais errará,
pois estará plenamente unido ao Bem.
A liberdade será finalmente reconciliada com o amor.
3. O juízo e a comunhão
O juízo não é punição arbitrária — é revelação do sentido.
Veremos o desenho completo,
e perceberemos que nada se perdeu.
Então, a separação cessará:
Deus será tudo em todos.
O mal será esquecido, não por negação,
mas por superação.
4. O cântico final
E o cosmos, enfim reconciliado, entoará:
“O Amor venceu.”
Nenhuma lágrima permanecerá,
nenhuma dor será eterna.
O mal terá sido apenas o caminho
por onde o amor passou para se revelar.
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EPÍLOGO — O AMOR É O ÚLTIMO ARGUMENTO
O amor é a chave de toda teodiceia,
a resposta última da filosofia e da fé.
Deus criou por amor,
permitiu a liberdade por amor,
e redimiu o mal — também — por amor.
A razão busca compreender,
mas o amor transcende a razão.
No fim, toda pergunta silencia,
porque o Amor é a resposta que contém todas as outras.
> “O mal foi vencido não pela lógica,
mas pela cruz.”
E assim se encerra o tratado:
com o mesmo silêncio de onde tudo nasceu —
o silêncio habitado por Deus.
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Sócrates Randinely
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