segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Um tratado sobre o amor, a dor e a redenção da existência

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DEUS, A LIBERDADE E O MAL


Um tratado sobre o amor, a dor e a redenção da existência


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Epígrafe


> “Deus é amor — e, por amor, concedeu à criatura o dom terrível da liberdade.

Pois somente o que é livre pode amar verdadeiramente.”


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PRÓLOGO — O MISTÉRIO DO AMOR


Antes de toda criação, antes de qualquer átomo vibrar no vazio,

havia o Amor.

Não como emoção, mas como ser —

a comunhão eterna do Pai, do Filho e do Espírito.


O universo nasceu não de necessidade,

mas de generosidade.

Deus não criou para possuir,

mas para compartilhar.


O amor, então, é o alicerce ontológico do ser —

a razão pela qual existe algo, e não o nada.


Mas eis o paradoxo:

o mesmo amor que cria, liberta.

E a liberdade, dom supremo,

abre a possibilidade do mal.


Assim começa o drama da história:

Deus, a Liberdade e o Mal.


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PARTE I — O PROBLEMA E O DOM


1. O escândalo do mal


O mal é o enigma que desafia a razão e fere a alma.

Como pode o Amor infinito permitir a dor finita?

Se Deus é bom, por que há tanto sofrimento?


William Lane Craig afirma: o mal não refuta Deus — o pressupõe.

Só se fala em “mal” quando há um “bem” que foi violado.

E esse bem objetivo só existe se há um fundamento moral transcendente —

isto é, Deus.


Sem Deus, o mal deixa de ser tragédia e torna-se apenas acidente.

Mas com Deus, o mal é ofensa, e toda ofensa pede redenção.


2. O dom terrível da liberdade


Deus criou o homem livre.

Livre para amar — e, portanto, livre para recusar o amor.

Sem essa liberdade, não há virtude, nem moralidade, nem comunhão.

Mas com ela, há risco.


O mal nasce da liberdade, não da vontade de Deus.

O Criador desejou um mundo de pessoas, não de marionetes.

E preferiu correr o risco da dor

a negar à criatura a dignidade de escolher.


Craig chama isso de a “defesa do livre-arbítrio”:


> “Deus pode ter razões morais suficientes para permitir o mal,

se o bem maior da liberdade torna possível o amor verdadeiro.”


3. O mal como ausência


O mal não tem substância própria — é sombra, não luz.

É o bem corrompido, o amor desordenado,

a liberdade desviada de seu fim.


O ódio precisa do amor para existir,

assim como a mentira precisa da verdade.

O mal é o parasita do bem —

a distorção daquilo que nasceu para ser santo.


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PARTE II — O DEUS QUE SOFRE


1. O silêncio de Deus


Há momentos em que Deus se cala.

Mas o silêncio divino não é ausência — é presença oculta.

Há dores que não pedem explicação, mas companheirismo.


Deus não oferece uma resposta fria ao sofrimento;

Ele oferece a si mesmo.


2. O Deus encarnado


Na cruz, o Logos eterno entra na história.

O Criador se torna criatura,

o Eterno prova o tempo,

o Inocente sofre pelos culpados.


Ali, o mal parece triunfar — mas é vencido no coração do próprio amor.

A cruz é o ponto onde o infinito toca o finito,

onde a justiça se beija com a misericórdia.


Craig vê nela não apenas um evento teológico,

mas a resposta filosófica ao problema do mal.

Pois o sofrimento de Cristo mostra que Deus não é alheio à dor —

Ele é o primeiro a carregá-la.


3. O paradoxo do amor


Amar o homem significou aceitar o risco de perdê-lo.

Redimi-lo significou suportar o peso de sua culpa.


Deus, que tudo pode,

decidiu vencer não pela força,

mas pela fraqueza.


O amor, em sua forma mais pura,

é cruciforme.


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PARTE III — A VITÓRIA FINAL DO AMOR


1. O crepúsculo da história


Um dia, o tempo cessará.

O drama da liberdade chegará ao fim.

Cada escolha humana será revelada —

e o amor, finalmente, compreenderá o que o mal tentou destruir.


Deus não apaga o passado: Ele o transfigura.

Até as dores terão sentido,

pois cada lágrima foi semente de eternidade.


2. A redenção da liberdade


A graça não anula a liberdade — a consuma.

Ser salvo é ser livre do próprio ego,

capaz de amar sem reservas.


Na eternidade, o livre-arbítrio não mais errará,

pois estará plenamente unido ao Bem.

A liberdade será finalmente reconciliada com o amor.


3. O juízo e a comunhão


O juízo não é punição arbitrária — é revelação do sentido.

Veremos o desenho completo,

e perceberemos que nada se perdeu.


Então, a separação cessará:

Deus será tudo em todos.

O mal será esquecido, não por negação,

mas por superação.


4. O cântico final


E o cosmos, enfim reconciliado, entoará:

“O Amor venceu.”


Nenhuma lágrima permanecerá,

nenhuma dor será eterna.

O mal terá sido apenas o caminho

por onde o amor passou para se revelar.


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EPÍLOGO — O AMOR É O ÚLTIMO ARGUMENTO


O amor é a chave de toda teodiceia,

a resposta última da filosofia e da fé.

Deus criou por amor,

permitiu a liberdade por amor,

e redimiu o mal — também — por amor.


A razão busca compreender,

mas o amor transcende a razão.

No fim, toda pergunta silencia,

porque o Amor é a resposta que contém todas as outras.


> “O mal foi vencido não pela lógica,

mas pela cruz.”


E assim se encerra o tratado:

com o mesmo silêncio de onde tudo nasceu —

o silêncio habitado por Deus.


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Sócrates Randinely

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