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segunda-feira, 11 de março de 2013

Onde está o sábio?

Este texto pertence aos homens mais raros. Talvez nenhum deles sequer esteja vivo. É possível que se encontrem entre aqueles que compreendeu a verdadeira sabedoria: como eu poderia misturar-me àqueles aos quais se presta ouvidos atualmente? – Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos. As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no cimo das montanhas – e ver a imundície política e o nacionalismo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial... Possuir uma inclinação – nascida da força – para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de economia em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo... Muito bem! Apenas esses são meus leitores, meus verdadeiros leitores, meus leitores predestinados: que importância tem o resto? – O resto é somente a humanidade. – É preciso tornar-se superior à humanidade em poder, em grandeza de alma – em desprezo. 

Sócrates Randinely de Lucena

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO DE BATATAIS
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA I
PROF. REINALDO SAMPAIO PEREIRA
04 ABR. 2009
ADILSON APARECIDO FORTUNATO – RA 1043862
RESENHA: REPÚBLICA, OBRA PRIMA DE PLATÃO
PLATÃO, A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 2004.
Resumo
A República está dividida em dez livros ou diálogos em que Platão discorre sobre seu pensamento sobre o Estado ideal, que também expressa sua doutrina sobre o homem ideal. Serve-se da figura de Sócrates como personagem principal. Este trava com seus interlocutores profundos debates sobre diversos temas, desde o discurso sobre a superioridade da justiça em relação à injustiça, passando pela construção da cidade ideal com todos os seus elementos, com destaque para figura e a importância dos filósofos, às reflexões metafísicas sobre os dois mundos, o sensível e o inteligível, até chegar às conclusões sobre o destino da alma.
Introdução
Quem é Platão? Nasceu em Atenas, em 428/427 a.C. Arístocles era seu verdadeiro nome. Descendente do rei Codro e de Sólon, possuía inclinação natural à vida política. Segundo Aristóteles, Platão foi inicialmente discípulo de Crátilo, seguidor de Heráclito e, posteriormente, de Sócrates. Decepciona-se com os métolos utilizados na política de seu tempo, no regime oligárquico comandado por Cármides e Crítias. Inicia um período de viagens, após o qual, funda a Academia, escola que viria a adquirir grande prestígio em pouco tempo. Escreve várias obras, entre as quais destacam-se: Fedro, Teeteto, Banquete, Filebo, Protágoras, Górgias, República, a obra em questão. Pelo conjunto de sua obra e seu legado, situa-se entre os maiores pensadores de todos os tempos. 1
A República, obra prima de Platão. Com maestria, através dos discursos de Sócrates, descreve-se na República as diversas concepções políticas então conhecidas, contrapondo-as com a ideia de um Estado perfeito. Rejeita inteiramente como inadequadas para sua cidade ideal a visão mítica de mundo, presente nos poetas, como também a influência dos sofistas para a educação política do homem grego. As distinções e categorias presentes nas concepções sobre o Estado fazem referência àquelas que existem em cada homem. Assim, oligárquico, democrático, tirânico e real é o Estado, mas também cada cidadão presente neste.
A República inicia com a ideia da superioridade da vida do homem justo sobre o injusto. Esta ideia desdobra-se em vários argumentos durante toda a obra. O tema da educação dos cidadãos, em especial dos guardiões da cidade, os filósofos, que tem início no livro dois, passa pelo livro três e também é retomado em vários outros momentos, o que leva a crer que Platão o tem em grande conta.
Nota-se que para Platão, a felicidade é fruto da vivência de determinadas virtudes, como são a sabedoria, a coragem e a temperança. Este discurso é planteado no quarto livro. Elemento também significativo é o da possibilidade de paridade entre o homem e a mulher, no que se refere às funções dentro do Estado, segundo alguns critérios de seleção. Este tema e o da regulamentação das uniões conjugais, procriação e educação da prole estão presentes no livro cinco. Se existe alguém preparado para o governo da cidade ideal, esse alguém é o filósofo. Sua superioridade em relação aos demais cidadãos, desenvolvida pela educação e pelas virtudes que adquiriu durante a vida, faz dele o mais apto para tão elevado cargo. O livro seis trata deste argumento.
A alegoria da caverna, texto de capital importância em toda a obra de Platão está apresentada no sétimo livro. Aplicada à vida e à vocação do filósofo, este mito descreve como o filósofo, tendo alcançado a libertação do mundo sensível, tem como dever, tentar trazer os que ainda são escravos da aparência para a luz da Verdade. Além de retomar o argumento sobre a justiça, o livro oitavo expõe também a origem e a transformação pelas quais passam os diversos regimes democráticos. Não há maior infelicidade que viver num regime tirânico, seja para o que governa como para os governados. Este e outros agumentos são desenvolvidos no livro nove. No Estado perfeito, não podem co-existir com a Verdade suprema a aparência do conhecimento, baseada na poesia e na imitação. Este é um dos principais argumentos do último livro.
Conteúdo da obra2
O Livro um inicia com uma discussão entre Sócrates e Glauco sobre as vantagens e desvantagens da velhice. Deste assunto, passa-se ao tema principal de todo este livro, que de certo modo, também está presente na obra toda, a saber: sobre a virtude da justiça. Diante do que diz Polemarco, que a justiça consiste em fazer o bem aos amigos e o mal aos inimigos, Sócrates responde que é necessário antes, distinguir entre os verdadeiros e os falsos amigos e inimigos, pois as aparências podem enganar. O homem justo deve realmente agir como tal e não apenas parecer. Neste ínterim, Trasímaco entra no diálogo desafiando Sócrates a uma resposta diante do argumento segundo o qual a justiça consiste no interesse do mais forte, ou seja, daquele que detém o poder. Sócrates refuta esta tese, com um discurso sobre as diversas artes existentes, afirmando que cada uma não defende o próprio interesse, mas o interesse daqueles que dela aos quais está destinada. A justiça, como arte, é um bem para os outros, não para si. E quem não age assim, é um mercenário. Trasímaco passa a defender a superioridade da injustiça sobre a justiça, afirmando que esta se identifica com a virtude, ao que Sócrates recusa, com o argumento de que a injustiça enfraquece a ação humana pelas discórdias que gera naqueles que a praticam. Termina o livro afirmando que somente o indivíduo que possui a justiça é feliz.
No Livro dois, os amigos de Sócrates, Glauco e Adimanto, desejando que este aprofundasse seu argumento sobre a justiça, fingem estar do lado de Trasímaco e propõem duas teses como desafio àquela que Sócrates acabara de defender sobre a justiça. O primeiro, Glauco, distingue três possíveis categorias de bem: os que são desejáveis por si mesmos, os que são desejados pelas vantagens que proporcionam e os que se desejam apenas por suas vantagens. Segundo Glauco, na opinião daqueles de quem está se fazendo porta voz, todos almejam apenas esta terceira categoria. Para Sócrates, porém, a justiça se encontra na segunda destas categorias. Indo adiante em seu argumento, Glauco sustenta que na verdade, o grande desejo do homem é cometer injustiças sem sofrer punições por tal ato e mais, aquele que não as comete, age assim por medo das punições que pode vir a sofrer. Neste ponto, entra no diálogo Adimanto, e acrescenta novos argumentos em favor da tese de Trasímaco. Diz que, na verdade, os homens não louvam tanto a justiça em si, mas a reputação que se pode adquirir com a mesma. Sustenta esta ideia com o mito de Giges. Desta forma, melhor seria ser injusto, adquirindo a fama de justo. Diante disso, Sócrates propõe que a questão seja analisada num âmbito maior, aquele do Estado. Então, apresenta uma cidade ideal, composta por lavradores, artesãos e mercadores, cada uma destas classes, desempenhando na cidade o papel que lhe cabe. Glauco intervém novamente, propondo que seja acrescentada a estas classes, uma outra, a dos guardiões ou guerreiros, destinada à defesa da cidade. Surge, porém, a questão de sua educação. Inicia-se uma exposição dos dois componentes desta educação, a música e a ginástica. Em relação à educação musical, porém, Sócrates recomenda que seja eliminada a influência das obras poéticas, em referência às imagens negativas que estas apresentam dos deuses e heróis.
O Livro três continua discorrendo sobre a educação dos guardiões. Estes devem ser educados com as virtudes da coragem e a temperança. Devem rejeitar as poesias e os mitos que suscitam o medo da morte. Sócrates admite, em seguida, que somente os governantes tem o direito de mentir aos súditos, se a finalidade de tal ato for o bem da cidade. Ainda sobre a poesia, Sócrates a distingue em três tipos: narrativa, imitação e mista. Os guerreiros devem afastar-se daquela imitativa. A partir disso, é iniciada uma longa exposição sobre os meios pelos quais se realizam a educação dos guerreiros: a música e a ginástica. No que se refere à educação pela música, há uma descrição dos instumentos musicais, de seus rítimos e harmonias, selecionando aqueles que são mais adequados e aqueles que não são. Quanto à educação pela ginástica, esta tem por objetivo desenvolver, não somente a força física, mas especialmente a força moral. Por isso, ela deve estar em sintonia com aquela educação musical.
O Livro quatro inicia com uma resposta à objeção de Adimanto, para o qual os guardiões não seriam felizes em tal cidade. Sócrates especifica que na cidade ideal, importa o bem da coletividade, não apenas de uma única classe de cidadãos. A legislação esteja baseada sobre poucos princípios fundamentais, especialmente, a justiça. Para que seja garantida a existência da justiça, é necessário que os cidadãos aprendam a desenvolver a prática de três virtudes: a sabedoria, a coragem e a temperança. A sabedoria é a virtude daqueles que têm por função o governo da cidade. A coragem é necessária aos guardiões quando estão no campo de batalha para atacar ou defender sua cidade. A temperança, por sua vez, deve estar presente em todas as classes de cidadãos. Para Sócrates, a justiça existe na medida que cada um desempenha bem seu papel como cidadão. A justiça no Estado se identifica com a justiça no indivíduo. Existe, pois, correlação entre Estado e indivíduo, isto é, a estrutura da alma é análoga aquela da cidade. Novas distinções são apresentadas, desta vez, sobre a alma. Nela estão presentes as faculdades racional, concupscível e irascível. O homem é justo quando sua faculdade racional impera sobre as outras.
No Livro cinco, Adimanto pede esclarecimento sobre a participação das mulheres e das crianças nesta cidade ideal. Fica evidente que, para Sócrates, a mulher pode desempenhar funções semelhantes às do homem, desde que passe, como este, por um processo seletivo rigoroso. Disto se conclui que a diferença de sexo não implica, necessariamente em uma diferença de atitudes. Desta premissa, Sócrates passa à questão das regras quanto às uniões entre homens e mulheres, como também sobre sua procriação. A primeira regra é que os matrimônios devem ocorrer entre os melhores cidadãos, a partir de uma idade pré-estabelecida, para que seja garantida a qualidade e a quantidade adequada para esta cidade. A educação dos filhos deve iniciar imediatamente ao nascimento. Os jovens devem receber uma educação para a guerra, devem ser levados pelos seus pais para assistirem às batalhas e aprender com estes o seu futuro ofício. Sobre as guerras, Sócrates adverte que não deve haver batalhas com outras cidades gregas. As desavenças entre estas sejam consideradas desentendimentos, como o que acontece numa família, os quais, com o passar do tempo, podem ser dissolvidos pela reconciliação. Com certa tensão, Sócrates anuncia, em seguida, seu próximo argumento, no qual defende que a cidade tenha por governantes os filósofos. Entende por filósofo aquele que ama a verdade pura. Em seguida, estabelece a diferença entre a ignorância, a ciência e a opinião: a ignorância é a falta de conhecimento, a ciência, é o conhecimento do ser, e a opinião, é um estado intermediário entre as duas.
No início do Livro seis são expostos alguns argumentos que justificam a razão pela qual os filósofos devem ser os governantes da cidade: somente o filósofo conhece o ser e a verdade; ademais, é sincero, não é apegado aos bens mundanos; aprende com facilidade e possui harmonia interior. A este ponto, Adimanto faz uma objeção, ressaltando que os filósofos também são pessoas estranhas no parecer dos cidadãos. Em resposta a esta objeção, Sócrates observa que se isto acontece, primeiro, é somente nos Estados existentes, governados por demagogos e, segundo, é devido à influência dos sofistas no ambiente da formação do filósofo, pois este, não é em si malvado, porque mesmo a pessoa de natureza excelente pode sofrer influência se não for bem educada, deixando claro que nenhuma das constituições vigentes favorecem à filosofia. Somente a cidade ideal permite ao filósofo desempenhar sua função de governante. A educação dos filósofos deve focar a disciplina mais elevada, a qual tem por objeto o bem. Aqui inicia-se a exposição de densos conceitos e reflexões metafísicas, como o que gira em torno da ideia do bem. Para explicá-la, Sócrates faz uso de uma analogia baseada na luz solar. Introduz também o conceito de mundo sensível e mundo inteligível. Para Sócrates, a visão do bem situa-se no âmbito deste mundo inteligível. Prossegue em sua análise falando sobre os quatro tipos de objetos do conhecimento: as imagens, os objetos sensíveis, os conceitos científicos e as ideias. Os primeiros dois fazem parte do mundo sensível, os últimos, do mundo inteligível.
No Livro sete, como esclarecimento do complexo discurso do livro precedente, apresenta-se o mito da caverna, uma alegoria na qual alguém (o filósofo) se liberta da prisão do mundo sensível, conhece a Verdade do mundo inteligível e se vê, em seguida, no dever de voltar para libertar os que permaneceram na caverna. Após a apresentação deste mito, Sócrates desenvolve a ideia do tipo de educação que deve receber o filósofo para que chegue ao conhecimento do Bem. Recorda as disciplinas da música e da ginástica, que devem também ser acompanhadas da matemática, da geometria, da astronomia, da harmonia e, sobretudo, da dialética, porque esta útima tem por finalidade o conhecimento do bem. Em seguida, são colocados os critérios de escolha dos futuros filósofos dialéticos, as suas qualidades e também os graus de sua educação, a partir da infância: após um período de introdução aos exercícios físicos, devem estudar as várias disciplinas durante toda a juventude. Aos trinta anos devem passam por uma iniciação à dialética. Completando os cinquenta anos, os filósofos recebem o encargo do governo do Estado.
O Livro oito retoma a reflexão iniciada no primeiro livro sobre a felicidade do homem justo e a infelicidade do injusto. Desenvolve esta a questão relacionando as quatro formas de governo existentes com os quatro tipos de homem. São estas, a timocracia, a oligarquia, a democracia e a tirania. A timocracia aproxima-se da aristocracia. O nascimento da aristocracia se deve à corrupção da timocracia, pois neste regime, reinam a ambição e um oculto amor pelo dinheiro. O homem timocrático tem a sua alma guiada pelo elemento impulsivo, por isso, é ambicioso e ávido por dinheiro. Nasce o regime oligárquico, baseado no senso de divisão do Estado entre ricos e pobres. O homem oligárquico também é dominado pelo elemento impulsivo. As ações deste governo provocam revolta na classe mais pobre, o que, por consequência, gera o regime democrático. O homem do regime democrático tem sua alma dominada pelo elemento concupscível. A democracia também não se sustenta como regime, pois da disputa pelo poder, destaca-se aquele que se tornará o tirano, representante do Estado tirânico. Uma vez que toma o poder, o tirano, pelo medo de ser destituído, elimina os melhores cidadãos.
No Livro nove, Sócrates explica a razão pela qual no governo tirânico, injusto, não pode haver felicidade. Inicia com o argumento de que, num tal regime, os cidadãos desenvolvem sentimentos sempre contrários à lei. Estes sentimentos se manifestam, sobretudo, nos sonhos. Para o tirano, o que importa é a satizfação de seus apetites. A este estado, Sócrates contrapõe o Estado Ideal, este sim, promotor da perfeita felicidade. Passa então, à prova da infelicidade do homem tirânico. Na primeira prova, compara a tirania com o Estado ideal: o regime tirânico e o homem que o representa é escravo do medo e das lamentações, por isso é sumamente infeliz; já no Estado ideal, vive o homem real, ao contrário do tirano, goza da máxima felicidade, por ser membro de um regime proporcional ao seu grau de perfeição. Na segunda prova, faz uma relação entre três tipos de prazer e sua correspondência com as três partes da alma.
O Livro dez retorna à discussão sobre a influência da poesia e da imitação na formação do cidadão. Desta vez, Sócrates é ainda mais enfático sobre a necessidade de que sejam abolidas da cidade ideal tanto a poesia, quanto a imitação da arte. Inicia com uma densa reflexão filosófica onde distingue entre as ideias, os objetos sensíveis e os objetos da arte. Para Sócrates, o poeta e o pintor imitam os objetos sensíveis, ou seja, a aparência dos verdadeiros objetos, os inteligíveis. Por isso, estão três graus distantes da Verdade, pois o imitador não possui nem ciência, nem opinião sobre aquilo que imita. Quanto à arte, esta gera ilusão, excitando às paixões e partes inferiores da alma, como por exemplo, é demonstrado nos efeitos negativos da poesia trágica e cômica. Assim, não há espaço nesta cidade para Omero e outros poetas. Passa-se, então, para outra discussão, referente às recompensas asseguradas ao homem virtuoso após sua morte. Com isto, Sócrates toca no tema da imortalidade da alma. Diante da solicitação para que explique sobre a questão, apresenta o mito de Er, que descreve a realidade pela qual a alma passará após sua saída neste mundo, sobre o julgamento ao qual será submetida e sobre o modo pelo qual irá re-encarnar.
Apreciação e considerações finais
A leitura da República é elemento indispensável para quem deseja introduzir-se na filosofia de Platão. Nesta obra está exposta sua concepção filosófica sobre cosmos, sobre o homem, o Estado, a física, a metafísica, isto é, configura-se como uma espécie de síntese de sua produção filosófica.
Excelentes lições sobre os princípios que devem reger a vida, em especial em sua dimensão pública e política, onde o ideal de Estado corresponde ao ideal de homem. Tem-se mesmo a impressão de que Platão quer purificar o homem de sua época, e de todas as épocas, das influências baseadas em uma concepção mítica ou então utilitarista da realidade.
A a educação de verdadeiros cidadãos, exige métodos condizentes com sua natureza, cujo escopo é a excelência, a perfeição. Em seu Estado, pressupõe a divisão de classes e postula, assim, uma hierarquia, segundo a função de cada uma. Das mais importantes novidades parece ser a que prevê os filósofos como os mais indicados ao governo deste Estado ideal, devido aos valores pelos quais pautam a sua existência.
Uma leitura mais atenta, permite ainda iniciar-se na densa e profunda reflexão metafísica deste grande pensador. Por meio desta, toma-se contato com noções essenciais de toda sua obra, como os conceitos que se referem ao mundo das ideias, o mundo real, em contraposição com o mundo sensível, mera aparência daquele.
Platão mantém nesta obra o consagrado estilo literário do diálogo. Estes e inúmeros outros elementos fazem desta obra, uma das mais importantes da história do pensamento ocidental, tanto por sua originalidade, como pela perenidade de conceitos, no que se refere à concepção sobre o cosmos, e o homem enquanto ser político.

domingo, 2 de outubro de 2011

Liberdade, Igualdade e Fraternidade!
Definição e Significado da Anarquia

            A palavra anarquia vem do grego e é composta da partícula de negação “an” e de “arquia”, que quer dizer mando, poder, autoridade. Etimologicamente, pois, a palavra anarquia, que deveria ser escrita anarquia, significa estado de um povo, ou dito com mais exatidão, de um meio social sem governo.
            Como ideal social e como realização efetiva, anarquia quer dizer uma maneira de viver na qual o indivíduo, desembaraçado de toda coação legal e coletiva que tenha a seu serviço uma forca pública, não terá outras obrigações do que as que sua própria consciência imponha. Possuirá, portanto, a faculdade de entregar-se às inspirações reflexivas de sua iniciativa pessoal; gozará do direito de tentar todas as experiências que lhe pareçam desejáveis ou fecundas; aceitará livremente todos os acordos que lhe liguem aos seus semelhantes, sempre de caráter revogável; e não querendo que ninguém sofra com sua autoridade, resistirá a sofrer a autoridade do outro, seja quem seja. Assim, dono soberano de si mesmo, da direção de sua vida, da utilização que faça das suas faculdades, de seus conhecimentos, de sua atividade produtora, de suas relações de simpatia, amizade e de amor, o indivíduo organizara sua existência como melhor lhe convier: desenvolvendo-se em todos os sentidos a sua maneira, sem mais limites que os assinalados pela liberdade, plena e inteira, dos demais indivíduos.
            Essa maneira do viver implica um regime social no qual está desterrada toda a idéia do salário e assalariado, do capitalista e proletário, do amo e servo, de governante e governado.
            Explica-se que, definida assim a palavra anarquia, esta tenha sido com o tempo insidiosamente desviado de sua significação exata, que tinha sido tomada no sentido de “desordem”, e que na maioria dos dicionários e enciclopédias só ajam citações com essa acepção: desordem, caos, transtorno, confusão, etc. Excetuando-se os anarquistas, todos os filósofos, moralistas e sociólogos, inclusive os teóricos da democracia e os doutrinários do socialismo, afirmam que sem governo, sem legislação, sem uma força repressiva que assegure o respeito à lei e castigue toda infração dessa, não possa haver mais que desordem e criminalidade.
            Agora, será que não se dão conta, moralistas e filósofos, estadistas e sociólogos, da espantosa desordem que, apesar da autoridade que governa e da lei que reprime, reina em todas as partes? Tão imbuídos estão de sentido crítico e de espírito observador que não percebem que, quanto mais se aumenta a regulamentação, mais se estreitam as malhas da legislação, e mais se estende o campo da repressão, em maior grau se multiplicam a imoralidade, a abjeção, os delitos e os crimes?
            É impossível que estes teóricos da “ordem” e esses professores de “moral” confundam séria e honradamente os que eles chamam de “ordem” com as atrocidades, os horrores e as monstruosidades cujo indigno espetáculo ocorre diariamente ante nossos olhos. E maior é ainda a impossibilidade de que esses sábios doutores acudam à virtude da autoridade e a força da lei para atenuar e fazer desaparecer a força todas aquelas infâmias. Semelhante pretensão seria pura demência.
            A lei tem um só objetivo: justificar primeiro e sancionar depois todas as usurpações ou iniqüidade sobre as quais se assenta o que os beneficiários destas iniqüidades e usurpações chamam “ordem social”. Os detentores da riqueza cristalizaram na lei a legitimidade original de suas fortunas; Os detentores do poder levaram a categoria de imutável e sagrado o respeito devido pelas multidões aos privilegiados, ao poder e a majestade com que se aureolam. Pode-se examinar até o fundo o conjunto desses monumentos de hipocrisia e de violência que são os códigos, todos os códigos. Não se encontrará uma só disposição que não esteja a favor destes dois aspectos de ordem histórico e circunstancial, que se pretende converter em aspectos de ordem natural e fatal: a propriedade e a autoridade.
            Cedo aos hipócritas oficiais e aos profissionais do charlatanismo burguês tudo o que na legislação se refere à “moral”, já que esta não é, nem pode ser, em um estado social baseado na autoridade e na propriedade, mais que a humilde servidora e a desavergonhada cúmplice daquela e desta.
            Ignácio Acosta Ruiz (Espanha) Extraído do jornal CNT# 236, Junho de 1998.

Liberdade e Anarquismo

   A liberdade a qual o anarquismo busca, propõe e luta não é a liberdade irresponsável e fantasiosa onde se tem o direito de se fazer o que se quiser, no momento que desejar e na forma que for conveniente como imaginam os leigos. Também não é a liberdade pregada pela ideologia burguesa que se limita ao direito de ir e vir, de expressão e de escolher seu governante ou explorador; muito menos o anarquismo propõe a supremacia da liberdade do indivíduo sobre a da coletividade como falsamente afirmam os socialistas autoritários (estatistas) com o propósito óbvio de deturpar o anarquismo.
            Tanto a ideologia burguesa como os socialistas autoritários insistem em dizer que a liberdade plena é impossível de ser realizada, no entanto se utilizam de argumentos diferentes para tentar justificar seu desejo pelo poder. Os socialistas autoritários se apegam à falsa idéia de que a liberdade proposta pelo anarquismo pressupõe uma supervalorização e uma supremacia da liberdade individual sobre a coletiva, insistindo na idéia de que o interesse da coletividade deve estar em primeira ordem estando o indivíduo subordinado a coletividade, ou seja, ao Estado (ditadura do proletariado), onde somente a partir dele provem o seu direito e a sua vida. Já os burgueses propõem uma forma de liberdade limitada, condicional e vigiada, se utilizando sempre de chavões do tipo "a liberdade de um homem termina onde a liberdade do outro começa"... Ora companheiros, nada mais falso!
O que estes ardorosos defensores da autoridade e do poder não sabem ou fingem não saber, e que nós anarquistas-comunistas estamos aqui para lembrar é que a verdadeira liberdade não tem fim nem limites, tampouco uma forma de liberdade tem supremacia ou privilégio em relação à outra. Liberdade em anarquismo se somam e se completam; liberdade em anarquismo não tem final, apenas um começo que vai até onde a liberdade de todos e de cada um sonhar em alcançar e até, talvez, vá um pouco mais além.
            Liberdade para o anarquismo significa viver em comunismo libertário ou seja, numa sociedade de iguais (economicamente) onde os meios fundamentais de produção sejam de propriedade comum; onde o homem passa a se libertar da auto-alienação (produtiva) que o capital lhe impõe, podendo assim encontrar sua verdadeira essência, significa a resolução definitiva do antagonismo do homem consigo mesmo, com seus iguais e com a natureza.
            Mas não é só, liberdade para o anarquismo só pode ser plena em autogestão, o livre acordo entre iguais, a livre organização do corpo social da base para o topo, sem governos ou qualquer outra forma de autoridade irracional e/ou coercitiva, tudo isso sobre plena responsabilidade dos indivíduos e organizações coletivas em um sistema federativo estruturado a partir da mais simples forma de organização social (associações de bairros, comitês de fábricas, grupos de interesses científicos, etc.), até formas mais complexas, tendo sempre como instrumento chave a autonomia e a auto-direção.              A REVOLUÇÃO É O QUE NOS RESTA!

História do Movimento Anarquista no Brasil




Com 8.511.965 km² e uma população de cerca de 160 milhões de habitantes, "encontrado pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado à força de chicotadas e da decepação de pares de orelhas com as mãos dos capitães do mato", cresceu pela força do trabalho escravo, como os demais países "descobertos" por espanhóis, italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros. 

A questão social começou quando uns poucos figurões alugaram e compraram braços humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes, moradias, carruagens e tudo o mais capaz de proporcionar uma vida confortável aos comandantes da miséria e do progresso do Brasil. 

Nos quase 500 anos de história aconteceu de tudo um pouco: compra e venda de gente como nós nos leilões em praça pública, uso de escravos novos para reproduzir filhos (mão-de-obra com pouco custo e nenhum risco) com escravas sadias, trabalho pela comida, trapaças para tomar terras férteis aos nativos, prisões, espancamentos a gosto dos patrões e tudo o mais que o cérebro humano é capaz de imaginar para dominar seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus... 

A opressão seguiu-se às fugas e à formação dos quilombos, o mais importante foi instalado em Palmares (1602-1695), resistiu quase um século, teve 20 mil habitantes vivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e seus companheiros anteciaparam-se a Tiradentes dois séculos tentando formar uma nação dentro do Brasil. 

Independente em 1822, no grito do português Pedro I (4º de Portugal), o Brasil foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada (1831); Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada (1838); a Cabanagem (1835-1840); a Guerra dos Farrapos (1835-1845); a Revolução Liberal (1842); a Revolução Praieira e a Proclamação da República em 1889. 

Pouco antes (13 de maio de 1888) havia sido promulgada a Lei Áurea acabando com a prática de comprar e vender gente. 

A rebeldia iniciada na contramão pretendia mudar a prática patronal, surrada, vergonhosa, anti-humana! 

Do velho mundo chegavam as idéias revolucionárias de navio, em livros publicados na Europa. Entravam pelos portos do Rio de Janeiro, de Santos, atravessavam as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabeça de cada imigrante que vinha em busca de liberdade e de terra fértil para semear o anarquismo. 

Nas duas últimas décadas do século 19 alguns jovens brasileiros foram estudar na França e em Portugal e lá souberam das idéias libertárias. Outros estudaram no Brasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias e na leitura respostas para suas inquietações. 

É dessa época Manuel de Mendonça, autor da novela social "Regeneração". 

O médico e higienista Fábio Luz encontrou na Bahia Palavras de um Revoltado, de Kropotkine, leu essa revolucionária obra e tornou-se anarquista. Escreveu e publicou Ideólogos e Os Emancipados, duas obras libertárias do início do século 20, sendo desde então considerados os primeiros escritores brasileiros a tratar da questão social no romance. 

Aos dois intelectuais anarquistas juntaram-se Elísio de Carvalho, o estudante de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode da Fonseca, João Gonçalves da Silva e Maximino Maciel, formando o grupo que publicou, no Rio de Janeiro, mais adiante, a revista Kurtur, e fundaram a Universidade Popular, em 1904, duas iniciativas anarquistas. 

Avelino Foscolo, começou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no Rio Grande do Sul, Ricardo Gonçalves (tem uma rua com seu nome em São Paulo), Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e João Penteado, em São Paulo; Orlando Corrêa Lopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto e José Oiticica, no Rio de Janeiro. De Portugal chegou Neno Vasco, um ilustre advogado, fez escola como anarquista em São Paulo (1901-1911), entre outros responsáveis pela sementeira anarquista no território brasileiro. 

Em 1890 chegaram da Itália Giovani Rossi e seus companheiros para fundar a Colônia Cecília no Paraná. 

A São Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos Gigi Damiani, Alexandre Cherchiai, Oresti Ristori, Frederico Kniestedt, valorosos militantes italianos e de outros países que, depois de dar um salto no escuro para se ajustar ao clima tropical, às formas de trabalho, aos costumes, à alimentação, ainda tiveram que aprender o idioma português. A única coisa que pouco diferenciava o Brasil da Europa era a questão social, a exploração do homem pelo homem. 

Lícito é destacar que o motor de propulsão do movimento anarquista no Brasil veio da Itália, foram os imigrantes deste país que sacudiram e agitaram com maior intensidade a questão social, as reivindicações e começaram uma propaganda sistemática do anarquismo e do anarco-sindicalismo. Em idioma italiano ou em português, publicaram dezenas de jornais, fizeram centenas de palestras, realizaram espetáculos teatrais com peças revolucionárias e por isso muitos foram presos, expulsos e outros tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos também tenham melhorado de vida e abandonado as idéias. 

Dessa sementeira que envolveu em primeiro plano os italianos, seguidos e apoiados por portugueses, brasileiros, espanhóis e outros, circularam pelo Brasil mais de uma centena de jornais e revistas (entenda-se títulos) anarquistas e anarco-sindicalistas, sendo quatro diários; fundaram e dirigiram escolas de ensino racionalista, formaram grupos de teatro e representaram mais de uma centena de peças libertárias e anticlericais, fizeram comícios públicos contra a guerra, o serviço militar obrigatório, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram oscilava entre 16 e 10 horas diárias), bateram-se pela higiene e segurança no trabalho, por uma infinidade de melhorias tornando o trabalho menos penoso para o proletariado do Brasil. Mais de um milhar foram expulsos com a roupa do corpo acusados de agitadores estrangeiros, umas dezenas morreram lutando com a polícia. O primeiro anarquista assassinado foi o italiano Polenice Mattei, em São Paulo, no dia 20 de setembro de 1898. 

Para se entender a trajetória do anarquismo no Brasil, confundido com o movimento sindicalista revolucionário ou anarco-sindicalista, é preciso definir ainda resumidamente o que os distingue e por que se confundem. 

Movimento Anarquista: ação de grupos anarquistas, em conjunto ou separadamente, composto por células orgânicas, comunas, grupos, centros de estudos, uniões e federações. 

O movimento anarquista não é exclusivamente uma organização de operários para operários, é ação de indivíduos que se opõem e dão combate ao capitalismo, almejando a derrocada do Estado e a reconstrução de uma Nova Ordem Social, descentralizada horizontalmente, autogestionária. Não é a revolta dos estômagos, é a revolução das consciências! O Movimento Anarquista não se firma na luta de classes ou pretende instalar os governados no lugar dos governantes, seus fins são de acabar com as classes, tornar o homem irmão do homem, independente de cor, idade ou sexo. Não visualiza a igualdade metafísica ou de tamanho, força, necessidades, quer a igualdade de possibilidades, de direito e deveres para todos. 


Anarco-Sindicalismo: corrente sindicalista, assim chamada a partir da cisão provocada no 5º Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores), em Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operários do Brasil até a implantação dos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas, em 1930. 

O anarco-sindicalismo é ao mesmo tempo uma doutrina e um método de luta. 

Como doutrina, parte do trabalhador, célula componente da sociedade que pretende aperfeiçoar e desenvolver. Como método de luta, pretende a anulação do sistema capitalista pela ação direta, pela greve geral revolucionária e a substituição por uma sociedade gerida por trabalhadores em autogestão. Sua força reside no conjunto de organizações operárias (sindicatos, uniões e federações) voluntárias, livremente associadas. 

A diferença entre sindicalismo e anarquismo consiste nos métodos e alcance. O movimento anarquista é de indivíduos, pretende torná-los unidades ativas, independentes, capazes de produzir e gerenciar em autogestão, sem as muletas políticas, religiosas, sem chefes: vai até onde a liberdade e a inteligência o possa levar. O sindicalismo é um movimento de operários (inclusive de ofícios vários), voltado mais para a gerência da produção e do consumo. Seu espaço é limitado, materialista, sem a dimensão e o alcance de filosofia de vida do anarquismo. 

Bolchevismo: Variedade de socialismo. Doutrina política dos democratas russos que desejavam a aplicação integral do programa máximo de Lenin e Plekhanov. É empregado também como sinônimo do comunismo e do marxismo. Nasceu em agosto de 1903, durante o 2º Congresso do Partido Social Democrata Russo, iniciado em Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil depois da Revolução Russa de 1917, ganhando corpo com a formação do PCB em 1922. Disputou com os anarco-sindicalistas a supremacia dos sindicatos, transformando-se desde então num sério opositor aos movimentos anarquista e sindicalista. 

Revendo a caminhada histórica do movimento libertário brasileiro, descobre-se que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines, Maria Baderna da escola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon e Bakunin e revolucionários da Comuna de Paris chegados clandestinamente ao Brasil em busca de asilo político. 

Para o autor a história do anarquismo em terras brasileiras começou a ser escrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli. Foi este bravo militante italiano, artista joalheiro, falecido em 1944 em São Paulo, quem teve o mérito de fincar o mais visível e incontestável marco anarquista no Brasil. Chegou a São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia Anarquista de Guararema , com ajuda de libertários russos, franceses, espanhóis, italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração de brasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovani Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894 às investidas do governo da República, que acabava de implantar-se no Brasil. Asfixiada por cobranças de impostos indevidos, pelas invasões militares, os mais resistentes esperaram a expulsão, radicando-se nas imediações para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos tremulou a bandeira preta e vermelha do Anarquismo. 

São desta mesma época os periódicos ácratas: Ghi Schiavi Bianchi, São Paulo, 1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire, São Paulo, 1893, em italiano e português; Il Risveglio, São Paulo, 1893, em italiano. 

O Libertário, em português, saiu em 1898, em São Paulo, sob a direção de Benjamim Mota; O Despertar, Rio de Janeiro, em 1898, sob a direção de José Sarmento Marques, e em janeiro do mesmo ano de 1898 realizou-se o Primeiro Congresso Operário no Rio Grande do Sul com a participação de dois centros anarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice Mattei, o primeiro mártir do anarquismo, em São Paulo, Brasil. 

Em mais de cem anos, o movimento anarquista do Brasil sofreu inúmeros revezes. Chegou a contar com o apoio de quatro diários, dezenas de semanários, mensários, bimensários e periódicos. Atravessou fases dificílimas sem nenhum porta-voz nem poder reunir seus militantes. 

Nesse mesmo período foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria por iniciativa de grupos libertários que se cotizavam para angariar recursos com os quais custeavam edições. As obras clássicas foram lançadas por editoras comerciais. Somado o esforço dos libertários às iniciativas dos livreiros, o número de títulos de livros publicados em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas até 1960. 

Em 1964 chegou a ditadura militar e com ela um frutífero período de grande efervescência editorial de obras libertárias. Paralelamente à repressão, escritores e editoras afrontaram a ditadura na década de maior repressão (1970-1980), prosseguiu durante a varrida do entulho autoritário, entrando na "nova-velha república" pesquisando e publicando livros ácratas. 

O anarco-sindicalismo e o anarquismo caminharam no Brasil muito entrelaçados enquanto movimento. Sua distinção era notada na imprensa. 

Mais preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalho educativo. Viam no elemento humano a "peça" mais importante a preparar, tanto no terreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada militante fosse capaz de se autogerir sem muletas religiosas, patronais ou policiais. Colocava sempre os cérebros acima dos estômagos. 

Com estes objetivos os anarquistas fundaram escolas livres, universidades populares, grupos de teatro social, desenvolveram intensa propaganda educativa, sociológica, de cultura geral, libertária. 

Nas duas primeiras décadas do século 20 promoveram manifestações estrondosas na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia, e de companheiros presos, torturados e expulsos do Brasil. Apoiaram e ajudaram os trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos em 1910, os russos em 1917, reverenciavam os Mártires de Chicago, no dia 1º de maio, e não esqueciam as vítimas do capitalismo selvagem no Brasil e no mundo. 

Durante a guerra de 1914-1918, os libertários brasileiros atuavam em diversas frentes, em nível de Brasil: contra o desemprego, o aumento do custo de vida, a escassez de alimentos de primeira necessidade, combatiam a burguesia açambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado "pai de todos", que garantia inclusive a carnificina humana nos campos de batalha. 

Para minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertário que fazia comícios nas portas das fábricas, autorizou a venda de gêneros diretamente do produtor ao consumidor (processo hoje conhecido como feiras livres, um pouco mudado) sem taxação de impostos. 

Em nível internacional realizaram o Congresso Pró Paz, no Rio de Janeiro, e enviaram três delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista do Ferrol, em 1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol. 

O que aconteceu com os representantes do movimento anarquista brasileiro aparece no seguinte texto: 

"Realizou-se na quarta-feira à tarde, no largo de S. Francisco, um comício convocado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra formado de representantes de várias agremiações operárias daquela cidade. 

Abriu o meeting às 5 horas e pouco João Gonçalves da Silva, que explicou os fins do mesmo, que era protestar principalmente contra a proibição feita pelo governo espanhol à reunião do Congresso Internacional Pró Paz de Ferrol. 

Seguiram-se com a palavra José Elias da Silva e Dr. Orlando Corrêa Lopes, atacando os governos da Europa e mostrando que o proletariado é o único a sofrer com a conflagração, devendo ele, portanto, rebelar-se contra e esforçar-se por lhe pôr um paradeiro. 

Falou depois a operária Juana Buela, companheira de João Castanheira, o operário vítima da sanha da polícia de Espanha. Profundamente emocionada Juana Buela, que leu o seu discurso, proclamou bem alto e bem firme os seus ideais revolucionários, que não esmoreceram com a morte daquele que foi o seu companheiro de vida, antes mais se arraigam e mais se acentuam." 

Por fim, Leal Júnior, usou da palavra encerrando o comício com a seguinte moção de protesto: 

"Considerando que o direito de reunião e livre manifestação do pensamento é um direito primordial conquistado, adquirido e reconhecido em todo o mundo civilizado e; 

Considerando que o Congresso Internacional Pró Paz convocado pelos elementos proletários e revolucionários de Ferrol, Espanha, e tendo por fim combinar uma ação conjunta dos proletários da Europa e da América no sentido de uma afirmação positiva e concreta contrária à guerra e favorável ao estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva desse proletariado, colimava um escopo altamente humanitário e de verdadeira defesa da civilização; 

A massa popular reunida em comício organizado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra e realizado no Largo de S. Francisco de Paula, às 5 horas da tarde de hoje, deixa firmadas nesta moção as expressões de seu indignado protesto contra o ato do governo espanhol, proibindo aquele Congresso, perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos de outros países e assassinando, pelo instrumento da sua política, um dos delegados enviados por associações proletárias e libertárias do Brasil, o operário João Castanheira, como consta dos telegramas publicados pela imprensa desta cidade. 



Rio de Janeiro, 12 de maio de 1915" 
O comício do Rio de Janeiro terminou com grande passeata na frente da Federação Operária, no antigo Largo do Capim. Sucederam-lhe manifestações dos libertários do Paraná, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do Estado de São Paulo. Os jornais operários e anarquistas também atacaram de rijo os beligerantes, inclusive distribuindo postais com alegorias de repulsa à guerra, produzindo grande impacto ao longo dos quatro anos em todo o Brasil. 

São Paulo foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista da jornada de oito horas diárias; em Santos as greves para conseguir as oito horas só terminaram em 1921. 

O proletariado de tendência libertária procurava abrir caminho na selva capitalista deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, por solidariedade. 

Em 1918, movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de três operários assassinados pela polícia carioca e cerca de meia centena de presos e deportados. Em 1919, Epitácio Pessoa aproveitou para expulsar do país três dezenas de anarquistas. 

Contrariando as expectativas do governo, que acreditava que com as expulsões e deportações reduzia a pujança do movimento libertário, ainda em 1919, formou-se o Partido Comunista do Brasil, de que logo se arrependeriam seus organizadores ao saber que o governo soviético prendia, torturava, matava e expulsava anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov. 

A burguesia vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..." 

Uma onda nacionalista começava a formar-se no Brasil em oposição às "esquerdas". Em 1920 são expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses, pescadores de Matosinhos e da Póvoa de Varzim, vítimas desse patriotismo brasileiro. Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados e já tinham filhos nascidos no Rio de Janeiro. O único pecado desses trabalhadores do mar era não quererem naturalizar-se brasileiros. 

Uma lei vesga proibia-os de exercer suas profissões, acabando por servir ao integralista capitão Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada, com o aval do presidente Epitácio Pessoa. 

Neste mesmo ano foram expulsos também anarquistas e anarco-sindicalistas italianos, portugueses, espanhóis, precipitando protestos de operários e intelectuais em todo o país e na Europa. 

No sul, alemães e russos anarquistas marcavam suas presenças em oposição aos seus patrícios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xenófobos exploradores. 

Greve na indústria têxtil de Santa Catarina é o pretexto para expulsar dois anarquistas nascidos na Alemanha. 

Em Porto Alegre o anarquista alemão Frederico Kniestedt abre espaço com os jornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os três primeiros publicados em seu idioma e o último em português. 

Ainda no Sul, mais exatamente em Erebango, (Getúlio Vargas), fixaram residência e formaram uma comunidade várias famílias de russos da Ucrânia. Sua atuação anarquista é-nos contada por um dos seus componentes, Elias Iltchenco que visitamos já muito doente. 

"No ano de 1920 os emigrantes de Getúlio Vargas - ex-Erechim - já tinham condições emocionais e de locomoção e começaram a formar grupos coesos, a reunir-se uma vez por mês. Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa área de 40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango e outros lugares. 

São dessa época: 

União dos Trabalhadores Rurais Russos, de Getúlio Vargas (antigo Erechim). Seu presidente chamava-se Sérgio Iltchenco, o secretário Paulo Uchacoff e o tesoureiro Simão Poluboiarinoff; 

União dos Trabalhadores Russos, de Porto Alegre. Esta tinha como presidente Niquista Jacobchenco; 

União dos Trabalhadores Rurais Russos de Guaraní, Campinas e Santo Ângelo. Componentes: João Tatarchenco, Gregório Tatarchenco e outros. 

União dos Trabalhadores Russos de Porto Lucena. 

Um dos mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul, distribuidor do jornal Golos Truda, publicado na América do Norte de 1911 a 1963, e de toda a propaganda escrita que chegava da Argentina, chamava-se Demétrio Cirotenco. Durante mais de duas dezenas de anos foi o mais importante elemento de ligação, o aglutinador das Uniões de Trabalhadores em Erechim e Erebango principalmente. Depois sofreu um acidente e morreu, deixando um vazio entre os camponeses russos, que só em 1925 perderam a esperança de ver implantada em seu país uma sociedade de fundo e forma libertária." 

O mais eminente elemento anarquista russo no Brasil, escritor, jornalista, teatrólogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante a de Kropotkine e chamava-se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrânia e marcou a sua presença no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba-Paraná, onde faleceu. 

Os jornais mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canadá e dos Estados Unidos (Golos Truda) de 1918-1930; Golos Trujnica, de Detroit, de Nevada, Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia. 

Na segunda e na terceira décadas do século 20 o movimento anarco-sindicalista e anarquista chegou ao seu ponto mais alto. Além, dos jornais libertários, alguns militantes dispunham de espaços diários na imprensa comercial. Um deles nascido em Portugal, José Marques da Costa, tinha uma coluna diária no jornal A Pátria, do Rio de Janeiro, e publicou a seguinte nota: "Camilo Berneri na reunião do grupo Os Emancipados. Sexta-feira próxima, na sua sede à rua Buenos Aires, 265, às 20 horas em ponto, os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em geral terão oportunidade de ouvir uma brilhante Conferência de Camilo Berneri, sobre Giordano Bruno na Philosofia e na Renascença-Vida e Pensamento do grande filósofo da liberdade. 

Entrada franca, tribuna livre 


Os Emancipados 
Da Rússia e da Itália chegavam também ao Brasil e fizeram grandes estragos no movimento libertário duas correntes políticas na época batizadas de Bolchevista e de Integralista. 

A primeira orientada pela Terceira Internacional e a Internacional Sindical Vermelha, com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio do Partido Comunista Brasileiro, criado em março de 1922 por 11 egressos do movimento ácrata e um socialista. Começaram disputando a direção dos sindicatos e acabaram por ajudar os governos de Artur Bernardes, Washington Luiz e Getúlio Vargas a reduzir sensivelmente o movimento libertário e os sindicatos livres. Em 1927 assassinaram os anarquistas Antonino Dominguez e Damião da Silva e feriram mais de 10 militantes no Sindicato dos Gráficos, à rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio de Janeiro. Assaltaram e roubaram o acervo do Sindicato dos Trabalhadores em Calçados, à rua José Maurício, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentração do Oiapoque e a implantar a ditadura nazi-fascista no Brasil com seus sindicatos verticais, controlados pelo Ministério do Trabalho. 

A segunda corrente política veio dos porões do Vaticano com o nome de fascismo. No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo O projeto foi elaborado por D. Annunzio, Bertolotti, Papini e outros e tinha como "filosofia": "Poder tudo, absolutamente tudo! O único amor é o poder; o único fim é o poder; extremo sonho o poder!" 

No Brasil, o chefe, Plínio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina-flor dos desordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar ao poder: era o candidato a ditador Plínio lutando contra o ditador Getúlio. 

Para Plínio, os decretos nº 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de 19 de março de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores a aderirem às fileiras "sindicais do Ministério do Trabalho, tornando-os eleitores com representantes profissionais na Assembléia Nacional Constituinte, num total de 40 membros, sendo 18 representantes dos empregados, 17 dos empregadores, dois funcionários públicos e três profissionais liberais". Queriam copiar Mussolini totalmente. 

Vargas contava, para convencer os recalcitrantes, com a polícia política de Batista Luzardo, Felinto Müller, Emílio Romano, Serafim Braga e outros profissionais do argumento do cassetete. 

No Rio de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava: "Em um só xadrez da polícia acham-se presos 50 proletários, sem nota de culpa. Muitos deles sofreram castigos corporais por terem protestado com a greve de fome contra a alimentação que nem para os cães prestava." 

Em Porto Alegre, sob a orientação do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion, de 1º de maio, fala das pretensões nazistas sobre o Brasil em idioma alemão. E no dia 19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federação Operária de São Paulo, arromba as portas das secretarias do Sindicato dos M. de Pão, Liga Operária da Construção Civil, Trabalhadores em Moinhos e Armazéns, União dos Canteiros e União dos Empregados em Cafés, destrói seus acervos e leva os detidos para a Central de Polícia, onde permanecem 24 horas. Quando chegaram o chefe de polícia e o delegado da "ordem política e social" determinaram que fossem em liberdade, que a ordem de prisão não partiu daquele departamento policial. 

Em 1933, os jornais A Lanterna, A Plebe e O Trabalhador, a Federação Operária, o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontidão para não serem surpreendidos pelas marchas integralistas. 

Em alguns bairros de São Paulo, os mensageiros do "Duce" trabalhavam desesperadamente no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa verde oliva e iniciar a matança, o incêndio e a destruição, fazendo reviver, em pleno século 20, a invasão dos bárbaros inimigos da ciência e da civilização. 

O alerta vinha do Comitê Antifascista Libertário e tinha a data de agosto de 1933. 

Os comandantes do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos anos de 1933-1934: "Plínio Salgado (comandante nacional); Gustavo Barroso (vice-comandante e presidente da Academia Brasileira de Letras); Ribeiro Couto; 130 jornalistas do Distrito Federal que "assinaram o manifesto fascista dirigido aos intelectuais do Brasil". Ei-los: D. João Becker; Oswaldo Aranha (um dos comandantes da revolução getulista de 1930); Oliveira Viana (escritor); Madureira de Freitas, Osvaldo Chateaubriand (diretor do Diário da Noite); Tristão de Atayde (escritor e jornalista); Cláudio Ganns; Lourival Fontes; Hélio Viana; Américo Lacombe; Câmara Cascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ação Integralista Don Nicolau de Flue Gut, os cônegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder Câmara, etc.; os professores da Faculdade de Direito Miguel Reale, Alpinolo Lopes Casali, Damião Neto, Domingos Cantola, Ângelo Simões de Arruda, Loureiro Júnior, Rolando Corbusier, Manuel Ferraz de Campos Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio, Osvaldo de Sousa Shreiner, Antonio Arruda, Sebastião Martins de Macedo, Ziegler de Paula Bueno, Alcebíades Blanco, Ruiz de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Ernani Silva Bruno, Epaminondas Albuquerque, Vicente Laporta, Sinval Gonçalves de Oliveira, Antonio Dourado, Alberto Zirondi Neto, Nicolino Amato, José de Barros Bernardes, Carlos Schmidt de Barros Júnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lúcio Correa, Arual Antonio dos Santos, Waldemiro Dalboni, Augusto de Oliveira Filho, Ítalo Záccaro, Vitório Nascimento, Cândido de Oliveira Barbosa, Francisco Luis de Almeida Sales, Francisco Gottardi, João José Pimenta de Castro, João Edson de Melo, José de Camargo Rocha, Rio Branco Paranhos, Júnio de Carvalho, José Cândido Silveira Lienert, Antenor Santini, Alceu Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, José Vila do Conde e Ranulfo Oliveira Lima. 

Com objetivos bem definidos e sem tutores políticos, formava-se no Rio de Janeiro a Aliança Estudantil Pró-Liberdade de Pensamento, cujo manifesto de fundação, A Lanterna, semanário anticlerical e libertário, São Paulo, 9 de novembro de 1933, resume: 


"Companheiros 
O clero romano que sempre tem vivido aliado aos governantes, embora o artigo 72 da Constituição de 1891 e seus parágrafos estabeleçam em nosso território a liberdade de pensamento, neste instante prepara novos golpes contra o direito de pensar, agir e de orar." 

O A Plebe, quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas: "O Integralismo pretende, como o fascismo, escravizar e acorrentar o povo. Para não termos que chorar depois como energúmenos, defendamos agora a nossa liberdade como homens." 

"Já soou o clarim da redenção humana! Unamo-nos contra todas as guerras, contra todas as tiranias, contra todos os paliativos que nos apresentam. A nossa felicidade, a fraternidade, a liberdade, residem em nós mesmos, na força coesa que há-de triunfar." 

Em homenagem aos arruaceiros integralistas, o escritor Menotti del Picchia, candidato a "Duce", lança as bases do Fáscio Paulista com os Camisas Brancas. 

Em Niterói (A Plebe, de 2 de dezembro de 1933), o presidente da Academia Brasileira de Letras, Gustavo Barroso, chefe integralista, atacou às bengaladas e quebrou um braço à jovem operária Nair Coelho, 16 anos, quando esta discursava contra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de jardim e em Belo Horizonte; quem precisou fugir do Teatro Municipal foi o professor de línguas Casale. O povo, que assistia ao discurso do arruaceiro integralista, resolveu interrompê-lo, expulsar o vendilhão do palco. 

Em São Paulo, depois da derrota que tiveram no Salão Celso Garcia, o "bando de Plínio Salgado marcou para o dia 24 de dezembro uma demonstração de força destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas mais ativos" (Nossa Voz, de 1º de dezembro de 1933): "Marchariam no centro de São Paulo 18 Centúrias (companhias) dispostas a exterminar canibalescamente os anarquistas e outros esquerdistas que se opusessem à sua passagem." 

O trabalhador anarco-sindicalista resistia às exigências do Ministério do Trabalho. Contra ele tinha os bolchevistas aderentes desde a primeira hora, os patrões, a polícia, os integralistas invasores de sindicatos operários, que segundo substancioso manifesto do Sindicato dos O. em Fábricas de Vidros de São Paulo, fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam na Assembléia Constituinte a pena de morte para o Brasil!" 

Em março de 1934 a Federação Operária de São Paulo, com sede na rua Quintino Bocaiúva, 80, lançava três manifestos de grande significado. Um contra a Lei Monstro, outro contra a guerra e o terceiro em formato de encarte, enfocando as "organizações operárias, a legislação trabalhista, a lei de sindicalização, a caderneta profissional, a nova lei de férias, a nova Constituição e comunica as conferências de Edgard Leuenroth, Germinal Soler e Hermínio Marcos". 

Do Rio de Janeiro, sob o comando do acadêmico Gustavo Barroso, chegavam à Praça da Sé "500 guardas verdes de segurança", tropas de choque, treinados para imobilizar opositores. A polícia também montou metralhadoras em pontos estratégicos para coibir possíveis ataques aos integralistas, ainda "bem-vistos" pelo governo. Além do grande contigente policial, o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1º, 2º e 6º Batalhões de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria no local. 

A parade de integralistas contava com a presença de 10 mil soldados do Sigma dentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes estandartes com o símbolo do integralismo. 

Nas imediações da Sé haviam começado a formar-se grandes agrupamentos de curiosos de todas as ideologias. E mal a coluna alcançou a escadaria da Catedral ouviram-se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes" e em seguida tiros. Diz-se que foi uma metralhadora da Guarda Civil Montada, em frente à rua Senador, que ao ser movimentada disparou acidentalmente. Outros garantiam que os tiros foram disparados por comunistas que estariam no meio da multidão aguardando o desfile. O certo é que começou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertários para atacar os integralistas, desencadeando-se uma correria infernal. Gente fugindo e gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada e o juramento de fidelidade ao comandante integralista, Dr. Plínio Salgado, Fuhrer brasileiro, não aconteceu. 

Correndo nas "estradas" abertas pelos integralistas com a colaboração dos "comunistas" do PCB e dos dirigentes do Partido Católico Brasileiro do Cardeal Sebastião Leme, assessorados por "50 juristas", Getúlio Vargas não teve maiores dificuldades em implantar o Estado Novo, que durou até 1945. 

Em síntese, os anarco-sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram: 

Primeiro Congresso Operário Brasileiro - Centro Galego, rua da Constituição, 30-32, Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906. Ao todo 12 sessões. Discutiram 23 temas previamente acertados e um acessório. Compareceram delegados de 23 entidades de cinco estados do Brasil. Esteve presente o engenheiro italiano fundador da Colônia Cecília, Giovani Rossi. 


Segundo Congresso Operário Brasileiro - Centro Cosmopolita, rua do Senado, 215, Rio de Janeiro, de 8 a 13 de setembro de 1913. Ao todo os trabalhadores anarquistas e anarco-sindicalistas realizaram 12 sessões, debateram 24 temas com a presença de 117 delegados de 8 estados, sendo dois federações estaduais, cinco federações locais, 52 sindicatos e quatro jornais libertários. 


Terceiro Congresso Operário Brasileiro - Sede da União dos Trabalhadores em Fábricas de Tecidos, rua do Acre, 19, Rio de Janeiro, de 23 a 30 de abril de 1920. Efetuaram 23 sessões com a presença de 39 organismos de 11 estados do Brasil. 


Primeiro Congresso Estadual de São Paulo - Teve lugar no Salão Excelsior, rua Florêncio de Abreu, 29. Ao todo foram discutidos três temas principais, de 6 a 8 de dezembro de 1906. Objetivo: Pôr em prática as resoluções do 1º Congresso Nacional do Rio de Janeiro. 


Primeira Conferência Estadual de São Paulo - Realizada em 1907 com o propósito de elaborar e aprovar os temas para o 2º Congresso Estadual. Ao todo discutiram 22 temas. 


Segundo Congresso Estadual de São Paulo - Realizado nos dias 7 e 8 de abril de 1908. Dele participaram 22 organizações operárias comprometidas com o anarco-sindicalismo. 


Primeiro Congresso Estadual do Rio Grande do Sul - Teve lugar nos dias 1º e 2 de janeiro de 1898 com a presença de delegados de 10 associações, um jornal e um grupo anarquista. Foi o primeiro encontro de trabalhadores com idéias sociais no Brasil. 


Segundo Congresso Operário Estadual do Rio Grande do Sul - Na rua Comendador Azevedo, 30, dias 21 a 25 de março de 1920. Estiveram presentes delegados de 30 associações todas comprometidas com o sindicalismo revolucionário. 


Terceiro Congresso Operário do Rio Grande do Sul - De 27 de setembro a 2 de outubro de 1925. No total foram 12 sessões com a presença de delegados de 23 entidades operárias e do Comitê Pró-Presos Sociais e de dois jornais. Foi aprovada uma Declaração de Princípios da AIT e criado um Pacto de Solidariedade Internacional Anarquista. 


Quarto Congresso Operário do Rio Grande do Sul - clandestino em data que não ficou registrada. Realizaram três sessões durante dois dias com a presença de 16 entidades operárias, dois jornais, sies grupos anarquistas, vários militantes de São Paulo refugiados naquele estado do sul do Brasil (Florentino de Carvalho, Domingos Passos e outros) e delegados do Uruguai, Paraguai e Argentina. 


Primeiro Congresso da Federação de Trabalho do Estado de Minas Gerais - Realizou-se em Belo Horizonte em junho de 1912. Ao todo foram debatidos e aprovados sete temas. 


Congresso Operário do Paraná - Realizou-se no ano de 1907. Contou com a presença da Federação Operária, fundada por italianos remanescentes da Colônia Cecília, com o Grupo Filo-Dramático, 12 associações operárias e o delegado do jornal O Despertar, fundado e dirigido pelo anarquista italiano, expulso do Brasil em 1919, Gigi Damiani. 


Outros Congressos - Os trabalhadores anarco-sindicalistas brasileiros participaram ou marcaram presença no Congresso dos Operários Chapeleiros Sul-Americano, realizado na Argentina e Uruguai, em julho de 1920. As pesquisas deixam perceber que os anarquistas estiveram na linha de frente de todos os congressos anarco-sindicalistas e ainda realizaram os seus. 


Conferência Libertária de São Paulo - Rua José Bonifácio, 39-2º andar. Ao todo realizaram sessões nos domingos 14, 21 e 28 de junho, 5, 12 e 26 de julho de 1914. O objetivo principal era preparar e indicar dois delegados para representar o Brasil no congresso anarquista de Londres que não chegou a acontecer por causa da guerra. 


Congresso Anarquista Sul-Americano - Realizou-se no Rio de Janeiro de 18 a 20 de outubro de 1915 na sede da Federação Operária, praça Tiradentes, 71, sobrado. Estiveram presentes delegados do Brasil, da Argentina e do Uruguai. 


Congresso Internacional da Paz - Realizado de 14 a 16 de outubro de 1915. Seu ponto de debates foi a sede da Federação Operária, na praça Tiradentes, 71, Rio de Janeiro, com a presença de delegados da Federación Obrera Regional Argentina, delegados do Chile e do Uruguai. 


Congresso Anarquista do Brasil - Realizado na Nossa Chácara, no bairro de Itaim, São Paulo, de 17 a 19 de dezembro de 1948. Este marca o ressurgimento do movimento anarquista no Brasil após a derrubada da ditadura de Getúlio Vargas. Contou com a presença de anarquistas de vários pontos do Brasil e diversos militantes italianos, espanhóis e portugueses residentes no Brasil ou de passagem. 


Encontro Anarquista na Urca - De âmbito nacional. Teve lugar nos dias 9 a 11 de fevereiro de 1953 na rua Osório de Almeida, 67, no Rio de Janeiro, com a presença de mais de três dezenas de anarquistas. Foi um encontro muito proveitoso. 


Congresso Anarquista do Brasil - Realizado de 26 a 29 de março de 1959 em Nossa Chácara, no Itaim, São Paulo, com grande presença de militantes de todo o país, exilados espanhóis e alguns italianos. Foi aprovada a reativação dos Centros de Cultura Social e fundada a Editora Mundo Livre, do Rio de Janeiro. Ao todo foram debatidos e aprovados 10 temas. 


Encontro dos Libertários Espanhóis Exilados - Foi na sede do Centro de Cultura Social, na rua Rubino de Oliveira, 85, São Paulo, nos dias 7 e 8 de outubro de 1961. Estiveram presentes anarquistas brasileiros e exilados da CNT e da FFLL. 


Encontro Anarquista - São Paulo de 20 a 22 de abril de 1962. Reuniram-se em Nossa Chácara 100 militantes anarquistas de todo o Brasil, incluindo alguns companheiros estrangeiros. Foram realizadas cinco sessões muito proveitosas. 


Décimo Encontro Anarquista - Realizou-se nos dias 15 a 17 de novembro de 1963. Reuniram-se para tratar do rumo do movimento anarquista no Brasil mais de 100 militantes, Os assuntos foram divididos em seis temas principais. 


Maio de 1964 - Em Nosso Sítio. Encontro clandestino de avaliação dos anarquistas do Rio de Janeiro e de São Paulo para acertar os rumos diante da ditadura militar implantada em 1º de abril do mesmo ano. Saíram desse encontro algumas resoluções para resguardar o acervo dos anarquistas. 



Encontro em Nosso Sítio - Realizado em 1968, em Mogi das Cruzes, São Paulo. Clandestino. 
Encontro dos Grupos Pró COB - Realizado em maio de 1986 na rua Rubino de Oliveira, 85. 

O movimento libertário do Brasil participou também do Congresso de Ferrol, Espanha em 1915, com três delegados. Em 1928 com um delegado indireto e depois de 1945 enviou como delegado à França Joseph Tibogue, e mensagens de apoio aos demais congressos. 

A trajetória do anarquismo no Brasil teve a participação de uma confederação, várias federações, mais de 100 grupos especificamente libertários, seis editoras, três livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas universidades populares, uma intensa propaganda através do teatro ácrata, possui uma propriedade comprada pelos anarquistas, desde 1939, com moradias modestas e arquivo em prédio próprio. Foi uma sementeira que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e sensibiliza várias editoras comerciais para publicá-las. 

No Rio de Janeiro, com o falecimento de José Oiticica em 1957, três militantes libertários tiveram a idéia de formar o Centro de Estudos Professor José Oiticica, na sala onde o mestre dava aulas, à Av. Almirante Barroso, 6-sala 1.101. Nos dias seguintes os três realizaram uma reunião na Avenida 13 de Maio, 23, sala 922, e resolveram procurar companheiros afastados do movimento por razões diversas e convidá-los para fazer parte do centro e subscrever sua ata de legalização em 22 de julho de 1960. (O centro começou suas atividades em 1958) 

Em 1969, um "punhado" de militares da aeronáutica rebentaram a porta aos coices, carregaram parte do acervo cultural, máquina de escrever, mimiógrafo e outros objetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores do centro, "confiscaram livros, etc.", prenderam-nos e formaram um processo contra 16, impernunciando um. Torturaram alguns detidos e finalmente levaram-nos a um julgamento que durou até 1972. 

O Centro de Estudos do Professor José Oiticica, durante sua existência (12 anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros, promoveu curso sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas da América e da Europa, conduziu várias campanhas de protesto e apoio, realizou mais de uma centena de cursos e conferências, e parte de suas atividades foram anunciadas pela imprensa. Acabou por força da ditadura militar. 

Não se pode ignorar também os diários: A Plebe, São Paulo, 1919; A Hora Social, Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, São Paulo, 1921-1923; A Lanterna, São Paulo, 1901-1934. Os semanários: O Amigo do Povo, São Paulo, 1903; A Terra Livre, São Paulo-Rio de Janeiro, 1907-1910; La Bataglia, São Paulo, 1904-1913; Remodelações, Rio de Janeiro, 1945-1947; Ação Direta, Rio de Janeiro, 1946-1959. As revistas: Remodelações, Rio de Janeiro, 1921-1922; Renascença, São Paulo, 1923; A Vida, Rio de Janeiro, 1914-1915; Revista Liberal, Porto Alegre, 1921-1924; e umas centenas de periódicos. 

Um grupo de professores estudiosos do anarquismo promoveu curso na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista José Oiticica, formado por novos militantes libertários, realizaram, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um curso de anarquismo envolvendo Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e Movimentos Alternativos; Movimento Sindical e Anarco-Sindicalismo; e O Estado Hoje. Teve o apoio do Centro de Cultura Social de São Paulo, a Sub-Reitoria 5, a Comissão de Organização Estudantil, Comissão Cultural do IFCS, e mesmo sendo pago, a freqüência foi boa, o salão ficou literalmente cheio. 

No Rio Grande do Sul, grupos de libertários e simpatizantes comemoram o Centenário dos Mártires de Chicago e meio século da Revolução Espanhola, os 67 anos do fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos. 

Na capital do Brasil os anarquistas realizaram um Simpósio Libertário e fundaram a Editora Novos Tempos, que já produziu várias obras de real valor literário e cultura anarquista. 

Em São Paulo as Universidades de Campinas, São Carlos e da Capital formaram valiosas bibliotecas de História Social, predominando publicações anarquistas e anarco-sindicalistas, e periodicamente promovem cursos sobre anarquismo, sempre com a participação de membros do Centro de Cultura Social que têm uma longa experiência militante e mantêm permanentemente em sua sede, na rua Rubino de Oliveira, 85-2º, no Brás, círculos de conferências libertárias. E apoiado pelos núcleos Pró COB (Confederação Operária Brasileira) e pela AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de Cultura Social de São Paulo continua promovendo sessões comemorativas em defesa da natureza, contra a Bomba Atômica (no aniversário da explosão de Hiroshima), pela passagem dos 70 anos da Greve Insurrecional Libertária de 1917, na cidade de São Paulo, e debatendo a autogestão na luta social e as estratégias da luta sindical. 

Em seus ciclos de palestras, temas como "Feminismo e a Reapropriação do Corpo", "Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questões que se Levantam"; "Recuperando a Memória" e "Cavernas do Estado de São Paulo". E nos cursos de Extensão Universitária tratam "O que é o Anarquismo"; "As Origens: Da Revolução Francesa a Proudhon"; "A Primeira Internacional: Marx, Bakunin e a Comuna de Paris"; "Anarco-Sindicalismo, Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no Brasil"; e "Anarquismo Hoje, Liberdade e Autogestão". Estas iniciativas contaram com o apoio da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. 

Em sua produtiva trajetória, o Centro de Cultura Social de São Paulo realizou recentemente um Ciclo de Educação Libertária enfeixando os seguintes temas: "O Movimento Anarquista e o Ensino Racionalista em São Paulo, 1912-1919"; "Escola e Trabalho no Brasil Hoje"; "Educação Popular: da Educação Libertária à Educação Libertadora"; "Organização e Poder: Estado, Escola, Empresa"; "A Educação pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "Lutas Autônomas e Autogestão Pedagógica"; e "Uma Terapia Anarquista". 

Este movimento ideológico vem sendo divulgado pela revista Autogestão, pelo próprio Boletim do Centro de Estudos Sociais, prospectos avulsos, cartazes e pela imprensa comercial que noticia alguns cursos. 

Hoje, o anarquismo não assusta mais ninguém no Brasil. Palavra temida, ridicularizada, esta filosofia de vida resiste ao tempo e virou tema de teses de doutoramento, peças de teatro, novelas exibidas na televisão e filmes de curta e longa metragem. 

Os anarquistas do Brasil – salvo os que se dizem e não se encontraram ideologicamente – continuam com Kropotkine: "Quem acha que uma instituição de formação histórica pode servir para devolver privilégios que ela mesmo desenvolveu mostra com isso a incapacidade de compreender o que significa a vida de uma sociedade, uma formação histórica. 

Deixa de aprender a lei básica de todo o desenvolvimento orgânico, isto é, que novas funções requerem novos órgãos e que estes se devem criar por si mesmos." 

Colaboraram para tornar possível a trajetória anarquista no Brasil: Fábio Luz, João Gonçalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonçalves, Benjamim Mota, José Martins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo Frederico Greyer, Pedro Augusto Mota, Moacir Caminha, José Ramón, Domingos Passos, João Perdigão Gutierrez, Florentino de Carvalho, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando Corrêa Lopes, Manuel Marques Bastos, José Puicegur, Diamantino Augusto, José Oiticica, José Romero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo, João Penteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani, Artur Campagnoli, José Marques da Costa, Rodolfo Felipe, Isabel Cerrutti, João Perez, Antonino Dominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo, Juan Puig Elias, Maria Lacerda de Moura, Rafael Fernandes, Angelina Soares, Paula Soares, Elias Iltchenco, Frederico Kniestedt, Jesus Ribas, Cecílio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, Manuel Moscoso, Polidoro Santos, Amilcar dos Santos, Pedro Carneiro, Atílio Peçagna, Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua, Pedro Ferreira da Silva, Câmara Pires, Ramiro de Nóbrega, Maria Valverde, José Simões, Manuel Lopes, Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi, Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior, Lírio de Resende, Jaime Cubero e tantos outros intelectuais e operários a quem se homenageia, mesmo ausentes... 


Autor: Edgar Rodrigues 

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