sábado, 25 de outubro de 2025

Sobre o Amor e a Liberdade

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Sobre o Amor e a Liberdade


Amar é um ato de força, não de dependência.

Somente o espírito livre pode amar,

porque só ele não teme a perda.

O fraco busca possuir;

o forte sabe que nada é possuível.

Toda tentativa de reter o outro

é um sintoma de escravidão interior.


O verdadeiro amor não diz “seja meu”,

mas “seja o que és —

e se, sendo o que és, quiseres permanecer,

então haverá sentido.”

A liberdade não é o contrário do amor,

mas a sua mais alta expressão.


Quem compreendeu isso já não sofre quando o outro parte,

porque aprendeu que o amor não está no outro,

mas no poder de amar que habita em si mesmo.

Nada se perde, porque nada se possui.

O amor é criação, não captura;

é afirmação da vida, não sua prisão.


Assim, amar é deixar ser.

E deixar ser é o gesto mais elevado

de quem já aprendeu

que a liberdade é o único solo

onde o amor pode florescer.


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II — O Amor como Força do Mundo


Há um amor que não é humano,

e, no entanto, é a essência de tudo que vive.

Não nasce do desejo, nem da falta,

mas do mesmo fogo que move as estrelas.

Esse amor não pede retorno,

porque é o próprio movimento do existir.


O homem comum ama para preencher-se;

o sábio ama para transbordar.

No primeiro há fome; no segundo, abundância.

Quem ainda precisa ser correspondido

ainda não tocou a raiz do amor —

pois quem é inteiro não exige eco, apenas canta.


Deus — se ainda ousas nomeá-lo —

não é senão o amor que cria sem possuir.

O universo é o seu gesto amoroso:

a expansão infinita de um ser que nada retém.

E nós, fragmentos dessa força,

somos chamados a amar como o cosmos ama —

sem fronteiras, sem posse, sem medo.


Quando amas assim, deixas de ser um indivíduo

e te tornas um acontecimento do mundo.

Não amas alguém — amas o próprio ser que pulsa em tudo.

O outro deixa de ser objeto e torna-se espelho,

refletindo o mesmo fogo que arde em ti.


Então compreendes:

o amor não é caminho para fora, mas retorno ao centro.

E o centro é liberdade.

Pois quem ama com liberdade participa

do divino ato da criação:

faz do instante uma eternidade,

e da entrega, uma forma de poder.


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III — O Amor como Reconciliação do Ser


E então compreendi:

o amor é o último nome de Deus —

não o Deus dos altares,

mas o Deus que habita o sopro de tudo que vive.


O amor é o instante em que o finito toca o infinito

e nada se perde.

Nele, o humano se faz divino,

não por fugir da terra,

mas por amá-la até o limite do possível.


Quem ama verdadeiramente redime o mundo,

porque transforma o peso da existência em dança.

Aquele que ama sem possuir

faz do tempo uma eternidade,

e do outro, um espelho da própria vastidão.


Assim falou o espírito:

“Amar é dizer sim a todas as coisas —

ao nascer e ao morrer,

à presença e à partida,

à dor e à beleza.

Pois tudo é um mesmo ato do ser que quer florescer.”


E eu vi que o amor é o mais alto conhecimento,

pois só o amor compreende o sentido de ser livre.

Quem ama não precisa de céu,

porque já o criou dentro de si.


Então o homem e Deus se reencontram —

não em templos, mas no coração liberto.

E o amor, silencioso e radiante,

permanece como o último verbo do universo:

ser.


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