terça-feira, 7 de outubro de 2025

Saudade

 A Saudade: O Abismo da Presença Ausente


A saudade é o eco de algo que ainda vibra dentro de nós, mesmo quando o mundo já silenciou o som de sua presença. Ela não é mera lembrança — é o vestígio sensível do que foi vivido, impregnado de um desejo impossível de retorno. É um sentimento paradoxal: nasce da ausência, mas alimenta-se daquilo que foi presença; dói porque ama, e ama porque dói.


Há na saudade uma metafísica própria: ela habita o intervalo entre o ser e o ter sido. O passado, quando atravessado pela saudade, não é apenas um tempo morto — é um tempo que ainda pulsa, pedindo eternidade dentro de um corpo que só conhece o efêmero. O ser humano, condenado à consciência do tempo, encontra na saudade o seu castigo mais poético: sentir aquilo que já não está.


A saudade é o avesso do esquecimento. Esquecer é morrer; recordar é reviver — mas ter saudade é permanecer no limiar entre ambos, é viver a lembrança como uma ferida aberta. É a alma tentando tocar o intangível, o coração dialogando com sombras que ainda exalam luz.


Nenhum outro sentimento traduz tão bem o drama humano: o desejo de eternizar o que é transitório. A saudade é, talvez, a mais pura forma de amor — porque ama sem possuir, sem tocar, sem exigir. Ela é o amor depurado da matéria, o amor que subsiste apenas na ideia, na memória, no vazio que, misteriosamente, continua cheio.


E assim, quando sentimos saudade, é como se o tempo se curvasse por um instante: o passado toca o presente, o ausente se torna quase real, e nós — frágeis viajantes da existência — compreendemos, por um breve lampejo, que viver é, essencialmente, perder, e que a beleza da perda é o que torna a vida suportável e, paradoxalmente, infinita.

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