A morte, no campo mais profundo da psicologia, não é apenas o fim biológico da existência, mas o ponto em que a consciência humana se confronta com o limite absoluto do sentido. É o espelho escuro diante do qual o eu se dissolve, revelando o que há de mais essencial na alma: a angústia, a finitude e a busca por significado.
Para Freud, a morte habita silenciosamente o inconsciente como um duplo da pulsão de vida — a pulsão de morte (Thanatos), que nos impele a retornar ao estado inorgânico, à quietude primordial. Essa força não é destrutiva apenas no exterior, mas se manifesta internamente, como autossabotagem, repetição, melancolia. É o inconsciente afirmando que tudo o que vive carrega em si o desejo de cessar — e, paradoxalmente, é esse reconhecimento que nos impulsiona a criar, amar e transcender.
Jung, por sua vez, viu na morte não uma negação, mas uma passagem simbólica: o processo de individuação culmina quando o ego aceita sua dissolução diante do Self — a totalidade psíquica. Morrer, nesse sentido, é o ato mais profundo de integração: o eu deixa de ser o centro, e o inconsciente assume sua face arquetípica, unindo o humano ao eterno. A morte torna-se rito interno de transformação.
Para a psicologia existencial, especialmente em Kierkegaard e depois em Heidegger e Viktor Frankl, a morte é a medida da autenticidade. Saber-se mortal é viver acordado. O medo da morte, quando reprimido, gera vidas superficiais e repetitivas; mas quando enfrentado, desperta a consciência para o valor do instante. Frankl dizia que é precisamente porque morremos que a vida tem sentido — pois o tempo limitado obriga o ser humano a escolher, a dar forma ao seu destino.
No inconsciente coletivo, a morte é a guardiã do mistério, a força que impele o ser humano a perguntar “quem sou eu?” e “para quê existo?”. No silêncio da perda, o ego percebe que não controla o fluxo da vida; que amar é aceitar a transitoriedade; que viver plenamente é morrer simbolicamente a cada instante — renunciando à ilusão de permanência.
Assim, a psicologia mais profunda não vê a morte como o oposto da vida, mas como sua condição. Ela está contida no nascimento, no amor, na mudança, em cada término que nos obriga a recomeçar. Compreender a morte é, portanto, compreender a alma: reconhecer que só quem aceita o fim é capaz de viver com verdadeira profundidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário