A definição da inteligência: o Homo sapiens, um ser além dos limites da lógica
As três grandes áreas
que definem a inteligência
Ao definir nos próximos parágrafos o que é inteligência gostaria que o
leitor não acostumado a esses conceitos não se desanimasse. Será uma
sintética exposição. Para a Psicologia Multifocal a definição de
inteligência é abrangente e como o próprio nome da teoria diz, é
multifocal, multidinâmica, multifatorial. Alguns autores também
sugeriram que a inteligência é multidimensional e modificável
(Feurstein, 1980). O conceito global de inteligência entra em três
grandes estágios ou três grandes áreas. As duas primeiras são
inconscientes e a última, consciente.
A primeira área é mais
profunda, refere-se aos fenômenos inconscientes que atuam em milésimos
de segundos no resgate e na organização das informações da memória e
conseqüentemente na construção de pensamentos e emoções. Essa produção é
registrada milhares de vezes por dia pelo fenômeno RAM (registro
automático da memória), construindo a plataforma que forma o Eu, que é a
expressão máxima da consciência crítica e capacidade de escolha. Tudo o
que percebemos, sentimos, pensamos, experimentamos, tornam-se tijolos
na construção dessa plataforma de formação do Eu.
A segunda
área se refere ao corpo das complexas variáveis que influenciam em
pequenas frações de segundos os fenômenos que lêem a memória e produzem
os pensamentos, imagens mentais, idéias e fantasias. Entre essas
variáveis destaco "como estou" (estado emocional e motivacional), "quem
sou" (a história existencial arquivada nas janelas da memória), "onde
estou" (ambiente social), "quem sou geneticamente" (natureza genética e a
matriz metabólica cerebral) e o "como atuo como gestor da psique" (o Eu
como diretor do roteiro de nossa história).
Normalmente, as
teorias enfatizam os aspectos psíquicos, sociais e genéticos na
construção da inteligência. Alguns pensadores se fixaram na interação
entre as duas grandes forças geradoras do desenvolvimento em geral, e da
inteligência em particular, a natureza e a cultura. "Não é uma
competição, é uma dança" (Sternberg, 1990). Sim, de fato há uma dança
dinâmica de variáveis, mas que ultrapassa essas duas grandes forças
geradoras.
Como vimos, além da variável genética e cultural
estão, em primeiro plano, as variáveis "como atuo como gestor do
psiquismo" e o "grau de abertura das janelas da memória" determinado
pelos estados emocionais (alegria, tranqüilidade, humor depressivo,
ansiedade). Ao estudar esses outros fatores descobrimos que a mente
humana é mais complexa do que imaginamos.
Por exemplo,
pensávamos no passado que somente quem teve uma infância com traumas,
saturada de perdas e frustrações adoeceria, desenvolveria transtornos
psíquicos e psicossomáticos. Pobre engano! Sabemos hoje que mesmo os que
gozaram de uma infância feliz e sem traumas, que tiveram o privilégio
de ter pais amorosos, generosos, solidários, podem ter uma vida psíquica
miserável na adolescência e na vida adulta se não aprenderam a decifrar
alguns códigos fundamentais ao longo do processo de formação da
personalidade.
Poderão ser vítimas dos estresses financeiros,
estresses existenciais, perdas, competição predatória, frustrações,
preocupações excessivas; enfim, de uma série de variáveis que dilapidam
seu patrimônio psíquico, em especial seu prazer de viver.
Outro
exemplo: acreditamos ingenuamente que temos pleno domínio do processo
de construção de pensamentos, idéias, imagens mentais. Não é verdade.
Podemos dominar computadores, carros, aviões, mas não temos o domínio
completo da mais incompreensível das máquinas: a mente humana. Quantos
pensamentos inquietantes perturbam nossa tranqüilidade sem que os
tenhamos produzido conscientemente? Quantas idéias fóbicas transitam
pelo palco psíquico sem que tenhamos permitido que fossem construídas
pela vontade consciente?
O Eu como gestor psíquico,
administrador do intelecto, é apenas um dos códigos da inteligência. Se
mesmo sendo um bom gestor psíquico não dominamos completamente os
pensamentos e as emoções da complexa mente humana, imagine se não
decifrarmos esse código, imagine se abrirmos mão dessa gestão que ocorre
nessa segunda grande área da inteligência.
Nesse caso, se
usarmos um veículo como uma analogia da mente humana, podemos dizer que
somos amordaçados no banco de passageiro como espectadores passivos de
uma viagem que não programamos. Aliás, diariamente milhões de pessoas
viajam em suas mentes no território das fobias, das preocupações
doentias, da ansiedade, sem ter programado essa viagem. Entraram em um
filme de terror que não queriam assistir. O dramático é que o filme roda
na sua mente. Não há tecla para desligar o aparelho mental.
Ao
estudarmos a primeira e segunda grande área da inteligência podemos
concluir que Homo sapiens, capaz de desenvolver equações matemáticas,
fórmulas físicas e lógicos programas de computador, pode ser tão ilógico
a ponto de produzir reações agressivas, desproporcionais, irracionais.
Peritos em lidar com números podem perder sua lógica e reagir
estupidamente à mínima contrariedade. Médicos aparentemente dosados
diante de seus pacientes, podem reagir sem qualquer controle ao serem
questionados por seus pares. Na realidade, o Homo sapiens, seja ele um
psiquiatra ou paciente, matemático ou aluno, é micro ou macro de acordo
com cada momento existencial. Ninguém é plenamente estável e coerente. O
nível de flutuação apenas determina o grau de nossas doenças.
A
terceira grande área da inteligência se refere aos resultados das duas
primeiras áreas. Nessa área se encontram os comportamentos perceptíveis,
capazes de serem analisados, avaliados, aferidos. Nessa área se
evidencia a rapidez de raciocínio, o grau de memorização, a capacidade
de assimilação de informações, o nível de maturidade nos focos de
tensão, bem como os patamares de tolerância, inclusão, solidariedade,
generosidade, altruísmo, segurança, timidez e empreendedorismo.
Na terceira área da inteligência, segundo o conceito da Psicologia
Multifocal, é que são feitos os mais variados testes para se medir os
mais diversos tipos de quocientes de inteligência. Entretanto, todos os
testes são circunstanciais, parciais e incompletos. Nenhum deles é
definitivo. Habilidades que são detectadas em uns, não são em outros.
Capacidades que são aferidas em um momento, se mudamos as variáveis
(como estou, onde estou, níveis de gestão psíquica), não são aferidas em
outros.
Não vou entrar em muitos detalhes teóricos e
científicos sobre essas áreas nesta obra de aplicação psicológica, mas
gostaria de dizer que os códigos da inteligência envolvem as três áreas.
Decifrá-los e aplicá-los são processos conscientes, mas ao fazer esse
exercício atingiremos as regiões inconscientes, as camadas mais
profundas da inteligência humana, ainda que não percebamos.
Destacarei oito códigos da inteligência mais relevantes. Grande parte do
que a imprensa escreve é texto de auto-ajuda, orientação para os
leitores fazerem suas escolhas, apesar de alguns jornalistas não
admitirem e nem gostarem dessa linha literária.
Gosto muito de
escrever livros de ficção. Mas vários dos meus livros são de
"não-ficção". Alguns deles são classificados erroneamente como
auto-ajuda. Os que os classificam assim, não entendem quais são as
gritantes diferenças entre um livro de auto-ajuda e um livro de ciência
aplicada; enfim, de psicologia, psiquiatria, pedagogia e filosofia
aplicada. Apesar das minhas enormes limitações, procuro democratizar o
conhecimento sobre o funcionamento da mente extraído da teoria que
desenvolvi.
Meu objetivo é disponibilizar ferramentas para
estimular o debate de idéias, para que os leitores aprendam a atuar em
seu psiquismo, a desenvolver consciência crítica, proteger sua emoção,
tornarem-se gestores da sua mente e serem capazes de expandir seu
potencial intelectual e prevenir transtornos psíquicos.
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