terça-feira, 7 de outubro de 2025

O amor !

 O amor é o abismo mais luminoso que a existência ousou abrir dentro de nós. Ele não é apenas um sentimento, mas uma fenda no real, por onde o infinito se infiltra no finito. Amar é tocar o que não pode ser possuído, é carregar no peito uma presença que, ao mesmo tempo, nos completa e nos torna eternamente incompletos.


O amor não se explica: ele é anterior à razão e posterior a todas as justificativas. Ele nos coloca diante do paradoxo de desejar o outro sem reduzi-lo ao desejo, de querer ser um só sem anular a alteridade. No amor, a vulnerabilidade deixa de ser fraqueza e se converte em revelação — a nudez mais radical não é do corpo, mas da alma.


E talvez o mistério mais profundo do amor esteja justamente nisso: ao mesmo tempo em que nos mostra a pequenez de nossa individualidade, ele nos abre para a dimensão mais vasta do ser. Amar é reconhecer no outro o espelho do eterno, é perceber que a vida não cabe no limite da biografia pessoal, mas se expande no encontro, no cuidado, na doação.


O amor é a mais alta forma de coragem: lançar-se no risco da entrega, sabendo que todo laço é também uma possibilidade de perda. E, ainda assim, escolher amar — apesar da finitude, apesar da dor, apesar da morte. Porque, no fundo, amar é desafiar o tempo, é pronunciar silenciosamente que existe algo em nós que não pode perecer.


Assim, o amor não é apenas o que nos une: é o que nos revela. Ele é a ferida e o bálsamo, o vazio e a plenitude, o humano e o divino no mesmo sopro. O amor é o próprio sentido da existência traduzido em carne, olhar e gesto. Quem ama, de fato, já tocou a eternidade.

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