quarta-feira, 3 de abril de 2013

O que eu não disse no Roda Viva - Suzana Herculano-Houzel



Dia 25 de março tive a honra de ser a entrevistada no Programa Roda Viva, da TV Cultura, com a oportunidade de falar sobre como é fazer pós-graduação e ciência no Brasil. Fiquei pensando depois no que eu não disse a respeito, mas gostaria de acrescentar, então segue aqui:
- que eu lamento o engessamento do nosso sistema que, por ser estatizado, não permite agilidade de contratações, tanto pela universidade quanto pelos laboratórios. Nos EUA, por exemplo (atenção, polícia de plantão: falo dos EUA simplesmente porque é o exemplo que eu conheço melhor, pessoalmente, e não porque acho que tenhamos que copiar tudo o que vem de lá, porque não temos. Tem várias coisas erradas por lá, também) - enfim, nos EUA até mesmo as universidades estaduais têm autonomia para buscar, selecionar e contratar quem eles quiserem, em todos os níveis, do assistente de laboratório ao chefão supremo do departamento. O mesmo tipo de autonomia faz falta também nos laboratórios daqui: eu gostaria, por exemplo, de poder contratar rapidamente cientistas que têm as habilidades específicas que faltam em minha equipe. Mas não posso; tenho que elaborar um projeto, pedir bolsa de pós-doutorado já com o nome do candidato, e passar meses esperando uma resposta (enquanto isso, esse candidato faz o quê???). Também gostaria de poder demitir com agilidade quem não faz o seu trabalho. Mas não posso fazer isso sem pensar nas consequências para o programa de pós-graduação, que é avaliado pelos seus bolsistas, e "pega mal" na avaliação pela Capes ter bolsistas que "abandonam" o curso no meio. Se fossem considerados trabalhadores, como de fato são, não haveria problema na demissão por justa causa. E, claro, deveríamos poder contratar PESQUISADORES para fazer PESQUISA, e não sermos obrigados a contratá-los (concursá-los, na verdade) como "professores", muito menos com um contrato surrealmente ad eternum, que NENHUMA empresa comete a insanidade de oferecer aos seus empregados...
- que nos falta, no Brasil, financiamento privado. Não temos a cultura do patrocínio da ciência por pessoas jurídicas, nem de fundações e organizações com prêmios e grants privados de apoio à ciência. Também não temos a possibilidade de receber doações diretas de pessoas físicas. As mídias sociais hoje viabilizam esse tipo de apoio, que eu quero começar a incentivar em breve. Me aguardem! :o)
- que implantei recentemente em meu laboratório um sistema "capitalista" de remuneração pelo trabalho feito, e que está sendo sucesso absoluto de produtividade e motivação! No momento estou pagando por grama de tecido processado. A produtividade mais do que duplicou, sem qualquer perda de qualidade. Mais tarde eu comento meu experimento!

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