Bertrand
Russell pertenceu a uma família aristocrática inglesa. O seu avô paterno, Lord
John Russell tinha sido primeiro-ministro nos anos 1840 e era ele próprio o
segundo filho do sexto duque de Bedford, de uma família whig (partido liberal,
que no século XIX foi muito influente e alternava no poder com os
conservadores- "tories"). Os seus pais eram extremamente radicais
para o seu tempo. O seu pai, o visconde de Amberley, que faleceu quando
Bertrand tinha 4 anos, era um ateísta que se resignou com o romance de sua
mulher com o tutor de suas crianças. A sua mãe, viscondessa Amberley (que
faleceu quando Bertrand tinha 2 anos de idade) pertencia a uma família
aristocrática, era irmã de Rosalinda, condessa de Carlisle. O padrinho de
Bertrand foi o filósofo utilitarista John Stuart Mill.
Apesar
dessa origem algo excêntrica, a infância de Russell leva um rumo relativamente
convencional. Após a morte de seus pais, Russell e o seu irmão mais velho Frank
(o futuro segundo conde) foram educados pelos avós, bem no espírito vitoriano -
o conde Lord John Russell e a condessa Russell, sua segunda mulher, Lady
Frances Elliott. Com a perspectiva do casamento, Russell despede-se
definitivamente das expectativas dos seus avós.
Russell
conheceu, inicialmente, a Quaker americana Alys Pearsall Smith quando tinha 17
anos de idade. Apaixonou-se pela sua personalidade puritana e inteligente,
ligada a vários activistas educacionais e religiosos, tendo casado com ela em
Dezembro de 1894.
O
casamento acabou com a separação em 1911. Russell nunca tinha sido fiel; teve
vários casos com, entre outras, Lady Ottoline Morrell (meia-irmã do sexto duque
de Portland) e a actriz Lady Constance Malleson.
Russell
estudou Filosofia na Universidade de Cambridge, tendo iniciado os estudos em
1890. Tornou-se membro (fellow) do Trinity College em 1908. Pacifista, e
recusando alistar-se durante a Primeira Guerra Mundial, perdeu a cátedra do
Trinity College e esteve preso durante seis meses. Nesse período, escreveu a
Introdução à Filosofia da Matemática. Em 1920, Russell viajou até à Rússia, tendo
posteriormente sido professor de filosofia emPequim por um ano.
Em 1921,
após a perda do professorado, divorciou-se de Alys e casou com Dora Russell,
nascida Dora Black. Os seus filhos foram John Conrad Russell (que sucedeu
brevemente ao seu pai como o quarto duque Russell) e Lady Katherine Russell,
agora Lady Katherine Tait). Russell financiou-se durante esse tempo com a
escrita de livros populares explicando matérias de Física, Ética e Educação
para os leigos. Conjuntamente com Dora, fundou a escola experimental de Beacon
Hill em 1927.
Com a
morte do seu irmão mais velho em 1931, Russell tornou-se o terceiro conde
Russell. Foi, no entanto, muito raro que alguém se lhe tenha referido por este
nome.
Após o
fim do casamento com Dora e o adultério dela com um jornalista americano, em
1936, ele casou pela terceira vez com uma estudante universitária de Oxford
chamada Patricia ("Peter") Spence. Ela tinha sido a governante de
suas crianças no verão de 1930. Russell e Peter tiveram um filho, Conrad.
Na
primavera de 1939, Russell foi viver nos Estados Unidos, em Santa Barbara, para
ensinar na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Foi nomeado professor no
City College de Nova Iorque pouco tempo depois, mas depois de controvérsia
pública, a sua nomeação foi anulada por tribunal: as suas opiniões
secularistas, como as encontradas em seu livro "Marriage and Morals",
tornaram-no "moralmente impróprio" para o ensino no college. Seu
livro "Why I Am Not a Christian" que foi uma pronunciação realizada
nos anos 20 na seção sul da National Secular Society de Londres e o ensaio
"Aquilo em que Creio" foram outros textos que causaram a confusão.
(Existe uma pequena história da crise gerada pelo impedimento de Russell de
lecionar noCity College na introdução da edição brasileira da coletânea ensaios
de Russell chamada: "Por que não sou cristão: e outros ensaios sobre
religião e assuntos correlatos"). Regressou à Grã-Bretanha em 1944, tendo
voltado a integrar a faculdade do Trinity College.
Em 1952,
Russell divorciou-se de Patricia e casou-se, pela quarta vez, com Edith
(Finch). Eles conheciam-se desde 1925. Ela tinha ensinado inglês no Bryn Mawr
College, perto de Filadélfia, nos Estados Unidos.
Em 1962,
já com 90 anos, mediou o conflito dos mísseis de Cuba para evitar que se
desencadeasse um ataque militar. Organizou com Albert Einstein o movimento
Pugwash que luta contra a proliferação de armas nucleares.
Bertrand
Russell escreveu a sua autobiografia em três volumes nos finais dos anos 60 e
faleceu em 1970 no País de Gales. As suas cinzas foram dispersas sobre as
montanhas galesas.
Foi
sucedido nos seus títulos pelo seu filho do segundo casamento com Dora Russell
Black, e, posteriormente, pelo seu filho mais novo (do seu casamento com
Peter). Seu filho mais novo, Conrad (nome dado em homenagem ao seu amigo,
Joseph Conrad), quinto duque Russell, é um membro da Câmara dos Lordes e um
respeitado académico britânico.
Ideias filosóficas
Durante
sua longa vida, Russell elaborou algumas das mais influentes teses filosóficas
do século XX, e, com elas, ajudou a fomentar uma das suas tradições
filosóficas, a assim chamada Filosofia Analítica. Dentre essas teses,
destacam-se a tese logicista, ou da lógica simbólica, de fundamentação da
Matemática. Segundo Russell, todas as verdades matemáticas - e não apenas as da
aritmética, como pensava Gottlob Frege- poderiam ser deduzidas a partir de umas
poucas verdades lógicas, e todos os conceitos matemáticos reduzidos a uns
poucos conceitos lógicos primitivos.
Um dos
elementos impulsionadores desse projeto foi a descoberta, em 1901, de um
paradoxo no sistema lógico de Frege: o chamado paradoxo de Russell. A solução
de Russell - para esse e outros paradoxos - foi a teoria dos tipos
(inicialmente, a teoria simples dos tipos; posteriormente, a teoria ramificada
dos tipos), um dos pilares do seu logicismo. Trata-se, segundo Russell, de se
imporem certas restrições à suposição de que qualquer propriedade que pode ser
predicada de uma entidade de um tipo lógico possa ser predicada com significado
de qualquer entidade de outro ou do mesmo tipo lógico. O tipo de uma
propriedade deve ser de uma ordem superior ao tipo de qualquer entidade da qual
a propriedade possa com significado ser predicada.
Como
outro pilar desse projeto, Russell concebeu a teoria das descrições definidas,
apresentada em franca oposição a algumas de suas antigas idéias - em especial,
as contidas em sua teoria do significado e da denotação defendida no seu livro
The Principles of Mathematics - e à teoria do sentido e referência de Frege.
Para Russell, a análise lógica precisa de frases declarativas contendo
descrições definidas - expressões como p.ex. "o número primo par",
"o atual rei da França", etc. - deve deixar clara que, contrariamente
às aparências, essas frases não expressam proposições singulares - algumas
vezes denominadas proposições russellianas -, mas proposições gerais. p.ex., a
frase
(1) O
número primo par é maior do que 1,
embora
superficialmente tenha a mesma estrutura da frase
(2) Isto
é vermelho,
ou seja,
aparente como (2) representar uma proposição singular, realmente representa uma
proposição geral. Para Russell, (1) analisa-se assim:
(1')
Existe pelo menos um número primo par, e existe no máximo um número primo par,
e ele é maior do que 1.
Assim,
tal análise deixaria transparente que descrições definidas funcionam
logicamente como quantificadores. Contrariamente à sua antiga teoria do
significado e da denotação -- e à teoria do sentido e referência de Frege--, a
teoria das descrições definidas de Russell não associa às descrições definidas
significado e denotação -- sentido e referência. Segundo Russell, tais
expressões desempenham um papel semântico bastante diferente, qual seja, o de
denotar ( quando existe o objeto descrito pela descrição definida). Por outro
lado, as expressões que desempenhariam o papel de referirem-se diretamente aos
objetos seriam "nomes em sentido lógico" (nomes logicamente
próprios), como chamou Russell. Um dos seus exemplos preferidos de nomes logicamente
próprios são os pronomes demonstrativos: "isto", "este",
etc. Russell também estendou a sua análise de frases contendo descrições
definidas para frases contendo nomes próprios ordinários. Segundo ele, nomes
próprios ordinários seriam, de fato, abreviações de descrições definidas que
porventura se têm em mente quando se usam tais nomes. P.ex.,
"Aristóteles" poderia ser uma abreviação de uma descrição como
"o maior discípulo de Platão". (Tal concepção a respeito de nomes
próprios ordinários -- uma forma de descritivismo -- foi um dos alvos de Saul
Kripke em Naming and Necessity, que ali defendeu uma forma de millianismo.)
Em
estreita harmonia com essas teses lógico-semânticas, Russell desenvolveu
algumas teses de teoria do conhecimento, em particular, a distinção entre
conhecimento direto (by acquaintance) e conhecimento por descrição. Assim, o
conhecimento que se tem de uma mancha vermelha numa parede, para Russell,
poderia ser expresso numa frase como (2); por outro lado, o conhecimeto que se
tem dos números e de suas relações, p.ex., que 2 é maior do que 1, envolveria
conceitos lógicos, e não o conhecimento direto dos números. Russell formulou a
relação entre essas duas formas de conhecimento no seguinte princípio: todo o
conhecimento envolve a relação direta do sujeito cognoscente com algum objeto
(a relação de conhecer diretamente ou, conversamente, de apresentação de um
objeto a um sujeito cognoscente), mesmo que esse conhecimento seja conhecimento
por descrição de outro objeto.
Da
volumosa obra de Russell, destacam-se o seu livro de 1903, The Principles of
Mathematics (que consiste numa apresentação informal do projeto logicista de
Russell); o clássico artigo de 1905, "On Denoting" (em que Russell
apresenta pela primeira vez ao público sua teoria das descrições definidas); o
livro em três volumes, em co-autoria com o A.N.Whitehead, publicados entre 1910
e 1913, intitulado Principia Mathematica (a segunda edição, de 1925, contem
importantes modificações no projeto logicista de Russell-Whitehead); o seu
artigo de 1910-11,"Knowledge by Acquaintance and Knowledge by
Description"; e as conferências proferidas no inverno de 1917-18, reunidas
sob o título The Philosophy of Logical Atomism.
A ética
ecocêntrica coloca a natureza como tema central do planeta e o homem como parte
dela. Esta concepção se contrapõe à ética antropocêntrica, adotada pela cultura
tradicional européia, que considera o homem como o centro e senhor do universo
e a natureza como subordinada aos seus interesses. A visão ecocêntrica parte de
dois princípios: em primeiro lugar, considera que todos os seres que compõem a
natureza, da mesma forma que o homem tem direito à vida; segundo, que é
impossível preservar o homem se a natureza for destruída. Quer dizer: estamos
todos em um mesmo barco. Ou nos salvamos todos ou não se salva ninguém. Além
disso, a ética ecocêntrica responsabiliza o homem pela salvação de todos, pois
ele é o único que tem consciência do que está acontecendo e é o que mais
destrói.
Decálogo
Russell
propôs, em sua autobiografia, um "código de conduta" liberal baseado
em dez princípios, à maneira do decálogo cristão. "Não para substituir o
antigo", diz Russell, "mas para complementá-lo". Os dez
princípios são:
Não
tenhas certeza absoluta de nada.
Não
consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências
inevitavelmente virão à luz.
Nunca
tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
Quando
encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças,
esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma
vitória que dependente da autoridade é irreal e ilusória.
Não
tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades
contrárias a serem achadas.
Não uses
o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões
irão suprimir-te.
Não
tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje
aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
Encontra
mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se
valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo
que a segunda.
Sê
escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será
mais inconveniente se tentares escondê-la.
Não
tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o
consideraria um paraíso.
Curiosidades
Outubro
de 1948. Quando o avião em que Bertrand Russell estava pousou em um fiorde em
Oslo, houve um solavanco. Russell foi parar no chão, onde a água começava a
subir, e achou que tinha sido apenas uma onda que tinha invadido o avião e
exclamou "well, well" enquanto procurava seu chapéu. Abriram a porta
e o puxaram para dentro d'água, só então ele começou a entender o que se
passava e só pensava em proteger uma maleta, mas teve de deixá-la para nadar
para o barco mais próximo. Metade dos passageiros morreu. Houve mais sorte no
compartimento traseiro, para fumantes, onde o filósofo se encontrava.
Mais
tarde um repórter lhe perguntou: "O que pensou quando pulou na água?"
Ele
respondeu: "Que estava fria"
Repórter:
"Não pensou em misticismo e lógica?"
B.R.:
"Não."
Principais obras publicadas
1896, German Social Democracy, London: Longmans,
Green.
1897, An Essay on the Foundations of Geometry,
Cambridge: At the University Press.
1900, A Critical Exposition of the Philosophy of
Leibniz, Cambridge: At the University Press.
1910, Philosophical Essays, London: Longmans, Green.
1910–1913, Principia Mathematica (com Alfred North
Whitehead), 3 vols., Cambridge: At the University Press.
1912, The Problems of Philosophy, London: Williams and
Norgate.(Os problemas da filosofia, trad. Jaimir Conte).
1914, Our Knowledge of the External World, Chicago and
London: Open Court Publishing.
1916, Principles of Social Reconstruction, London:
George Allen & Unwin.
1916, Justice in War-time, Chicago: Open Court.
1918, Mysticism and Logic and Other Essays, London:
Longmans, Green.
1918, Roads to Freedom: Socialism, Anarchism, and
Syndicalism, London: George Allen & Unwin.
1919, Introduction to Mathematical Philosophy, London:
George Allen & Unwin,
1923, The Prospects of Industrial Civilization (em
colaboração com Dora Russell), London: George Allen & Unwin.
1923, The ABC of Atoms, London: Kegan Paul, Trench,
Trubner.
1924, Icarus, or the Future of Science, London: Kegan
Paul, Trench, Trubner.
1925, The ABC of Relativity, London: Kegan Paul,
Trench, Trubner.
1925, What I Believe, London: Kegan Paul, Trench,
Trubner.
1926, On Education, Especially in Early Childhood,
London: George Allen & Unwin.
1927, The Analysis of Matter, London: Kegan Paul,
Trench, Trubner.
1927, An Outline of Philosophy, London: George Allen
& Unwin.
1929, Marriage and Morals, London: George Allen &
Unwin.
1930, The Conquest of Happiness, London: George Allen
& Unwin.
1931, The Scientific Outlook, London: George Allen
& Unwin.
1932, Education and the Social Order, London: George
Allen & Unwin.
1934, Freedom and Organization, 1814–1914, London: George
Allen & Unwin.
1935, In Praise of Idleness, London: George Allen
& Unwin.
1935, Religion and Science, London: Thornton
Butterworth.
1936, Which Way to Peace?, London: Jonathan Cape.
1937, The Amberley Papers: The Letters and Diaries of
Lord and Lady Amberley (com Patricia Russell), 2 vols., London: Leonard &
Virginia Woolf at the Hogarth Press.
1938, Power: A New Social Analysis, London: George
Allen & Unwin.
1940, An Inquiry into Meaning and Truth, New York: W.
W. Norton & Company.
1946, History of Western Philosophy, New York: Simon
and Schuster.
1948, Human Knowledge: Its Scope and Limits, London:
George Allen & Unwin.
1949, Authority and the Individual, London: George
Allen & Unwin.
1950, Unpopular Essays, London: George Allen &
Unwin.
1951, New Hopes for a Changing World, London: George
Allen & Unwin.
1952, The Impact of Science on Society, London: George
Allen & Unwin.
1953, Satan in the Suburbs and Other Stories(contos),
London: George Allen & Unwin.
1954, Human Society in Ethics and Politics, London:
George Allen & Unwin.
1954, Nightmares of Eminent Persons and Other Stories,
London: George Allen & Unwin.
1956, Portraits from Memory and Other Essays, London:
George Allen & Unwin.
1956, Logic and Knowledge: Essays 1901–1950, London:
George Allen & Unwin.
1957, Why I Am Not a Christian, London: George Allen
& Unwin.
1958, Understanding History and Other Essays, New
York: Philosophical Library.
1959, Common Sense and Nuclear Warfare, London: George
Allen & Unwin.
1959, My Philosophical Development, London: George
Allen & Unwin.
1959, Wisdom of the West, London: Macdonald.
1961, Fact and Fiction, London: George Allen &
Unwin.
1961, Has Man a Future?, London: George Allen &
Unwin.
1963, Essays in Skepticism, New York: Philosophical
Library.
1963, Unarmed Victory, London: George Allen &
Unwin.
1965, On the Philosophy of Science, Indianapolis: The
Bobbs-Merrill Company.
1967, Russell's Peace Appeals, Japan: Eichosha's New
Current Books.
1967, War Crimes in Vietnam, London: George Allen
& Unwin.
1967–1969, The Autobiography of Bertrand Russell, 3
vols., London: George Allen & Unwin.
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