domingo, 12 de abril de 2015

Antônio Joaquim Severino


Do ensino da Filosofia


por Antônio Joaquim Severino*
O ensino da Filosofia é imprescindível em todos os níveis e modalidades de escolarização. Obviamente não se trata de erudição filosófica, de domínio de um acervo de informações sobre os filósofos e seus sistemas de pensamento. Trata-se, antes, de contribuir para que os estudantes possam realizar a experiência intelectual do filosofar, adequada para sua faixa etária. A formação humana é o processo do vir-a-ser do homem, graças ao qual ele transita de sua condição de indivíduo puramente natural para a condição de uma pessoa cultural. Processo de humanização que passa necessariamente pelo exercício da subjetividade na qual o conhecimento em geral e a Filosofia, em particular, tem lugar privilegiado, na medida em que ela é aquela modalidade de conhecimento que se destina especificamente a construir o sentido da existência humana, analisando e articulando criticamente todos os subsídios fornecidos pelas demais formas de conhecimento.
Na precária trajetória da educação brasileira, o ensino da Filosofia está vivendo um momento promissor, embora tímido. Já tem se tornado uma prática comum a inserção da formação filosófica para as crianças do ensino fundamental. Em 2007, foram legalmente reintroduzidas no currículo do ensino médio as disciplinas de Filosofia e de Sociologia; no ensino superior, ainda que não de maneira universal, como seria desejável e necessário, muitos cursos de muitas instituições incluem em seus currículos disciplinas filosóficas.
Até pela relevância e imprescindibilidade do exercício da reflexão filosófica no seio da cultura, o ensino da filosofia merece um cuidado muito especial, na medida em que é o locus principal de desencadeamento de todo o processo da busca de sentido. Não se trata apenas de se instruir em uma determinada habilidade nem de se apropriar de um acervo de conhecimentos. Trata-se, ao contrário, de se instaurar, de se desenvolver e de amadurecer um estilo de reflexão, um modo de pensar, um jeito especial de fazer atuar a subjetividade. Obviamente, isto tem de ser conquistado por mediações pedagógicas, fazendo-se assim absolutamente imprescindível o ensino. Por isso é preciso que nos posicionemos criticamente contra a ideia de que este refletir surge na transversalidade do aprendizado geral das demais disciplinas de um currículo. Certo, não cabe mesmo fetichizar o currículo, mas mediações específicas precisam estar atuantes para que aprendamos a filosofar.
Se você tem alguma experiência que queira compartilhar com outros leitores, envie-nos os detalhes no e-mail filosofia@fullcase.com.br
*Antônio Joaquim Severino é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP)
 

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