quarta-feira, 1 de maio de 2013
Como ser neurocientista - Suzana Herculano-Houzel
Como ser neurocientista? Que curso fazer para ser neurocientista? Recebi esta pergunta de várias pessoas recentemente, então segue minha resposta e sugestões aqui. Primeiro: neurociência é uma especialidade de pós-graduação. Sim, sim, a UFABC já tem uma graduação em neurociência. Mas graduação, por melhor que seja, não torna ninguém neurocientista (qual é o recém-graduado que vai conseguir emprego como neurocientista???), e sobretudo não é requisito para ser neurocientista. Neurocientistas podem ser formados em biologia, psicologia, medicina, biomedicina, ou qualquer outra carreira que dê uma formação suficiente para se ingressar em uma pós-graduação em neurociência. Qual formação um aspirante a neurocientista deve escolher? Na minha opinião, é relativamente simples. Quem se imagina fazendo pesquisa clínica com pacientes TEM QUE fazer medicina. Quem se interessar apenas por comportamento e relações entre pessoas, sem se preocupar com o que tem dentro do cérebro, pode se contentar com psicologia (a psicologia no Brasil infelizmente tem um ranço terrível de psicanálise e um tradicional desdém patético pelo cérebro. Parece que isso começou a mudar para melhor, mas se você está interessado no cérebro, sugiro primeiro se informar sobre o currículo da sua futura faculdade de psicologia; há boas chances de você se formar sem aprender grandes coisas sobre o sistema nervoso!). Quem tiver interesse pela biologia do cérebro e quiser uma formação sólida em biologia celular e molecular pode cursar Biomedicina. No entanto, minha preferência continua sendo pela formação em Biologia, mesmo, por ser a mais completa, abraçando desde a ecologia até a genética molecular, e incluindo evolução, o que os outros cursos em geral não fazem (sim, eu sou bióloga). Além disso, é preciso pensar realisticamente nas alternativas de emprego que a graduação oferece. Médicos e psicólogos recém-formados têm um bom mercado de trabalho à sua frente; biólogos até que têm alguma alternativa; biomédicos... acho que podem trabalhar com análises clínicas, mas em geral resta a eles e aos biólogos somente a pós-graduação, mesmo, como alternativa de "trabalho" - enquanto o trabalho como cientista não puder ser chamado de trabalho com todas as letras. Portanto, recomendo pensar também em quanto você precisa/deseja/acha sensato ter uma alternativa imediatamente viável de emprego assim que se formar. Mas não há receita de bolo. Recomendo informar-se sobre as graduações possíveis e ver a grade de disciplinas que serão obrigatórias ou eletivas. Aos aspirantes, lembrem que é sempre possível especializar-se DEPOIS, mas ganhar a base ampla, sólida mais tarde fica mais difícil; por isso não sou fã da tal graduação em neurociência. E antes que a polícia de plantão venha me chatear: este é o MEU blog, e estas são as MINHAS opiniões. Têm opiniões contrárias? Digam-nas à vontade, e podem inclusive usar os comentários deste post! Apenas peço que se esforcem para respeitar minhas opiniões, da mesma maneira como vocês gostariam que as suas fossem respeitadas...
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