Anarcopunk
ou anarco-punk é uma vertente do movimento punk que consiste de bandas, grupos
e indivíduos que promovem políticas anarquistas. Apesar de nem todos os punks
apoiarem o anarquismo, o pensamento tem um papel importante na cultura punk, e
o punk teve uma influência significativa no anarquismo contemporâneo. O termo
anarcopunk é algumas vezes aplicado exclusivamente a bandas que fizeram parte
do movimento anarcopunk original no Reino Unido na década de 1970 e 1980, como
Crass, Conflict, Flux of Pink Indians, Subhumans, Poison Girls e Oi Polloi.
Alguns utilizam o termo mais amplamente para se referir a qualquer música punk
com conteúdo anarquista em sua letra. Essa definição mais ampla inclui bandas
crust punk e bandas d-beat como Discharge, e podem incluir bandas de hardcore punk
dos Estados Unidos, como MDC, artistas de folk punk como This Bike Is a Pipe
Bomb ou artistas em outros subgêneros.
Um
crescimento no interesse popular ao anarquismo ocorreu durante os anos 1970 no
Reino Unido após o nascimento do punk rock, em particular os gráficos
influenciados pelo situacionismo do artista Jamie Reid, que desenhava para os
Sex Pistols e o primeiro single da banda, "Anarchy in the UK". No
entanto, enquanto que a cena punk inicial adotava imagens anarquistas
principalmente por seu valor de choque, a banda Crass pode ter sido a primeira
banda punk a expor ideias anarquistas e pacifistas sérias. O conceito do
anarcopunk foi assimilado por bandas como Flux of Pink Indians e Conflict. O
co-fundador do Crass, Penny Rimbaud, disse que sentia que os anarcopunks eram
representantes do punk verdadeiro, enquanto que bandas como os Sex Pistols, The
Clash e The Damned eram nada mais do que "fantoches da indústria
musical". Enquanto passavam os anos 1980, dois novos subgêneros da música
punk evoluíram do anarcopunk: crust punk e d-beat. O crust punk, e seus
pioneiros foram as bandas Antisect, Sacrilege e Amebix. O d-beat eram uma forma
de música punk mais bruta e rápida, e foi criada por bandas como Discharge e
The Varukers. Um pouco depois, na mesma década, o grindcore desenvolveu-se do
anarcopunk. Parecido com o crust punk, porém ainda mais extremo musicalmente
(utilizava blast beats e vocais incompreensíveis), seus pioneiros foram Napalm
Death e Extreme Noise Terror. Paralelamente ao desenvolvimento desses
subgêneros, muitas bandas da cena hardcore punk dos Estados Unidos tinham a
ideologia anarquista, incluindo MDC e Reagan Youth.
O
anarcopunk se parece muito com o anarquismo sem adjetivos, no sentido de
envolver a cooperação de várias formas diferentes de anarquismo. Alguns
anarcopunks são anarco-feministas (como Polemic Attack), enquanto outros eram
anarcossindicalistas (Exit-Stance). O The Psalters, por exemplo, é uma banda
anarcopunk afiliada ao anarquismo cristão. A anarquia pós-esquerdista é comum
no anarcopunk moderno. CrimethInc., um dos maiores proponentes do
pós-esquerdismo, possui fortes ligações com o movimento. A Class War é uma
federação pós-esquerdista britânica que também é muito ligada ao anarcopunk, e
apoiada por bandas como Conflict. Muitos anarcopunks apóiam questões como
direitos animais, igualdade racial, feminismo, ecologismo, anti-heterossexismo,
autonomia trabalhista, movimento pacifista e o movimento antiglobalização. O
pacifismo não é apoiado por todos anarcopunks. Os punks, de modo geral,
aproximam-se do anarquismo devido ao seu modo de ser, de negar e combater o
autoritarismo, as fronteiras e os preconceitos impostos, porém, os anarcopunks
assumem a política anarquista e seus modos de ação e organização, assim como
seus princípios. Seus mais fortes modos de expressão cultural são a música, ou
anti-música, a poesia e o visual "pesado" e agressivo, que procura
refletir "todo o peso e imundície da sociedade em que vivemos".
Muitas
bandas anarcopunk enfatizam uma ética "faça você mesmo" (do it
yourself ou DIY em inglês). Um slogan popular do movimento é "DIY not
EMI", que em inglês representa uma rejeição a uma grande gravadora (a EMI,
no caso). Inicialmente, muitas bandas anarcopunk eram divulgadas na série de LPs
Bullshit Detector, lançada pela Crass Records e Resistence Productions entre
1980 e 1994. Alguns artistas anarcopunk faziam parte da cultura DIY. Desta
maneira, a rota tradicional gravação-distribuição era ignorada, já que as
gravações eram feitas para quem enviasse uma fita em branco e um envelope
endereçado a si mesmo. Com o surgimento da internet, o formato mp3 tem sido
amplamente utilizado com esse objetivo. A cultura DIY no anarcopunk, tambem
pode ser exemplificada através de sua mídia impressa, uma rede de fanzines que
dissemina notícias, ideias e arte da cena. Todos esses fanzines são DIY,
produzindo, no máximo, centenas de unidades, apesar de haver exceções como o
Toxic Grafity (sic). Os zines são impressos em fotocopiadoras ou máquinas
duplicadoras, e distribuídas à mão em shows punk e por correio. Atualmente a
distribuição de alguns zines é feita no formato e-zine.
Os
anarcopunks acreditam universalmente na ação direta, apesar da maneira com que
isso se manifesta varia muito. Mesmo com suas diferentes abordagens, geralmente
há cooperação dentro do movimento. Muitos anarcopunks são pacifistas (como
Crass e Discharge) e acreditam na utilização de meios não-violentos para
alcançar seus objetivos, que incluem protesto pacífico, recusa a trabalhar,
sabotagem econômica, ocupação, revirar resíduos, pichação, realizar boicotes,
desobediência civil, "hacktivismo" e alterar material publicitário
contra o anunciante. Outros anarcopunks acreditam que a violência, em alguns
casos, pode ser necessária no processo para alcançar a mudança social (como
Conflict e D.O.A.). Isso se manifesta por manifestações de rua, vandalismo,
diversas formas de sabotagem, participação em atividades "estilo Frente
pela Liberação dos Animais", e, em casos extremos, defender-se ou atacar usando
o que for necessário.
Alguns
integrantes de bandas punks com influência de anarquismo, principalmente na
América do Norte, já tentaram utilizar o processo democrático eleitoral para
trazer suas regiões mais próximas à anarquia, apesar de nenhum ter concorrido como
membro de um partido anarquista. Entre os que tentaram, estão o líder dos Dead
Kennedys, Jello Biafra, para prefeito de São Francisco, o cantor do T.S.O.L.,
Jack Grisham, a governador da Califórnia e o cantor principal do D.O.A., Joey
Shithead. Alguns desses, como Biafra, acreditam que a mudança social maior é
necessária antes de os humanos estarem prontos para a anarquia. Há a teoria de
que a tentativa de Biafra em concorrer à prefeitura de São Francisco, foi uma
forma de protesto sarcástico para ridicularizar o processo eleitoral. Entre
suas propostas políticas, estava a de policiais usarem narizes de palhaço.
O
anarcopunk foi destacado como um dos fenômenos sociais que levou o anarquismo
na direção da política de identidade. Alguns alegam que o visual tornou-se um
ingrediente essencial do movimento, algumas vezes obscurecendo outros fatores,
apesar de outros alegarem que os artistas que se alinharam com o anarcopunk
envolveram-se em diversas abordagens no formato e na ideologia, exemplificado
pela variedade de bandas do movimento. Do mesmo modo, freqüentemente é dito que
o visual era simplesmente uma representação da ética associada ao anarquismo
(crença anti-corporação e DIY).
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