segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A FÓRMULA DA FELICIDADE !!


 Uma boa vida depende da harmonia entre segurança e liberdade, mas não dá para ter as duas ao mesmo tempo !!

O filósofo polonês Zygmunt Bauman, aos 86 anos, deu uma belíssima entrevista para o projeto Fronteiras do Pensamento, no dia 25 de julho de 2011, em Londres.
Nela, esse pensador discute dilemas muito presentes no universo de homens e mulheres que tenho pesquisado nos...
últimos anos. Bauman afirma que há dois valores absolutamente indispensáveis para uma vida feliz. Um é a segurança, o outro é a liberdade. Para ele, não é possível ser feliz e ter uma vida digna e satisfatória na ausência de qualquer um dos dois. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é caos.
Entretanto, ninguém, até hoje, encontrou a fórmula de ouro, a mistura perfeita entre segurança e liberdade. Cada vez que conseguimos mais segurança, entregamos um pouco da nossa liberdade. Quando temos mais liberdade, entregamos parte da nossa segurança.
Bauman cita "O Mal-Estar da Civilização", de Freud, para lembrar que a civilização é uma troca: sempre ganhamos e perdemos algo. Para Freud, os indivíduos entregaram liberdade demais em prol de segurança. Hoje, poderíamos ver o contrário: entregamos demais a nossa segurança em prol da liberdade.
Nunca iremos encontrar a solução perfeita, o equilíbrio do pêndulo que vai ou em direção à liberdade ou em direção à segurança, conclui Bauman. E esse é o nosso grande dilema: nunca iremos parar de procurar essa mina de ouro, pois queremos ter liberdade e segurança ao mesmo tempo.
Muitos filósofos contemporâneos consideram a vida de Sócrates como a mais perfeita que se possa imaginar. Bauman pergunta: o que isso significa? Significa que todos nós devemos imitar Sócrates e tentar ser iguais a ele? Não, ele responde. Ele não acredita em uma única maneira de ser feliz.
Justamente porque Sócrates considerava que o segredo da sua felicidade estava no fato de ele próprio, por sua própria vontade, ter criado a forma de vida que ele viveu.
As pessoas que imitam a forma de vida e o modelo de felicidade de outra pessoa não são como Sócrates. Pelo contrário, elas traem a receita de felicidade dele. Precisamente porque o segredo de Sócrates pode ser traduzido de uma maneira simples: para cada ser humano há um mundo perfeito a ser construído especialmente para ele. Um mundo perfeito para cada indivíduo a ser inventado por cada um de nós.
Então, o que é mais importante para a sua felicidade? Liberdade ou segurança?
 
 
 
 
 
“A nossa felicidade depende muito mais do que temos em nossa cabeça, do que nos nossos bolsos”. Arthur Schopenhauer

A sociedade de consumidores (doravante “SC”) projeta uma cosmovisão que nos contagia, direcionando nosso olhar sobre a felicidade e a infelicidade. Estamos conscientes dessa contaminação?
Os valores com os quais a sociedade se compromete motiva os comportamentos individuais. Hoje...
, a tal ‘busca da felicidade’ move, alimenta e alavanca o PIB. Busquemos elucidar, no intrincado engodo de nossa SC, aonde a melancolia encontra refúgio.
O ‘Pai da Psicanálise’, Sigmund Freud, apontou que, basicamente, o ser humano busca o prazer e evita a dor, ao que Zygmunt Bauman corrobora: “desejam a felicidade e evitam a infelicidade”. E esclarece: “os dois conceitos assinalam a distância entre a realidade tal como ela é e a uma realidade desejada (...)”.
A atual SC orquestra uma ‘renegociação do significado do tempo’, perpetuando o prazer que, incansável e incessantemente, queremos repetir. Dogmática, a ‘obrigação’ de ser feliz, o tempo todo, tornou-se vício.
O valor supremo da SC está numa vida feliz e é a essa ‘vida feliz’ que todos os outros valores são instados a justificar seu mérito: “A sociedade de consumidores talvez seja a única na história humana a prometer a felicidade na vida terrena, aqui e agora e a cada ‘agora’ sucessivo. Em suma, uma felicidade instantânea e perpétua”, afirma o sociólogo.
Ser feliz a todo instante se tornou tão imperativo que “(...) a infelicidade é crime passível de punição, ou no mínimo um desvio pecaminoso que desqualifica seu portador como membro autêntico da sociedade (...)”. Até a lua é de fases, mas nós, nem por um instante, podemos minguar.
Habitando uma sociedade que tem como télos (propósito, objetivo, finalidade) reforçada imposição do prazer, somos levados a nos autoavaliar ininterruptamente, sem perspectiva histórica, pela acumulação e repetição de momentos apoteóticos “em um grau desconhecido e dificilmente compreensível a qualquer outra sociedade de que se tem registro”. Prima-se pela constância em felicidade, sempre atrelada ao poder de consumo, proporcionada por maiores rendimentos.
Mas, quanto ao impacto do dinheiro sobre o sentimento de felicidade, Bauman cita que Richard Layard recolheu evidências de que isso só ocorre até o patamar que coincide com a satisfação das necessidades básicas, de sobrevivência, essenciais ou naturais.
Ocorre que a SC induz à ampliação desse patamar: “tenta afastar, ou pelo menos marginalizar, substituindo-os por desejos mais flexíveis e grandiosos e por vontades mais caprichosas e impulsivas”, afirma o sociólogo.
Contrariando o que os marqueteiros insistem em garantir e as crenças mundanas endossam, ganhar mais não garante, necessariamente, aumento no volume da felicidade: “o consumo não é um sinônimo de felicidade nem uma atividade que sempre provoque sua chegada”. Atentemos ao fato de que, inócuo o consumo como ‘fator de felicidade’, naufraga quando se trata das necessidades do ser ou das realizações pessoais.
A infelicidade – melancólico desconforto – que a SC acarreta, parece notória. O estudioso destaca alguns sintomas evidentes: extenuantes jornadas de trabalho, falta de autoconfiança, conflitos e fracassos nas relações amorosas e/ou familiares, insegurança sobre estar ou não estabelecido de maneira razoável, a necessidade de ‘ter razão’ e o excesso de informações, que tendem a crescer em frequência, volume e intensidade.
De fato, com tantas as informações disponíveis, se faz necessário desenvolver a habilidade de filtrar as indesejadas. Segundo Ignacio Ramonet: “Nos últimos 30 anos se produziu mais informação no mundo do que nos 5 mil anos anteriores (...) Um único exemplar da edição dominical do New York Times contém mais informação do que a que seria consumida por uma pessoa culta do século XVIII durante toda a vida”.
Entretanto, por ser mais capaz de discernimento, desconfio que uma pessoa ‘culta’, consuma com qualidade, alcançando maior plenitude.
Bauman esclarece que o conceito de ‘melancolia’ representa, em seu uso atual “não tanto um estado de indecisão, uma hesitação, entre seguir um ou outro caminho, mas um recuo em relação às próprias divisões. Ele representa um ‘desenredamento’ em relação à ‘estar atado a qualquer coisa específica’”.
Paralisante, a melancolia é “um distúrbio resultante do encontro fatal entre a obrigação e a compulsão de escolher/o vício da escolha e a incapacidade de fazer opção (...) e pela indisponibilidade de critérios fidedignos capazes de separar o relevante do irrelevante e a mensagem do ruído”.
A ser afugentada a qualquer custo, a infelicidade constitui a matéria-prima da SC que, paradoxalmente, “prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros (...)”. Curiosamente, o pharmakon que essa sociedade oferece gera ainda mais daquilo que se diz combater, a insatisfação.
O renomado sociólogo alerta que o medo é a principal causa da variedade líquido-moderna de infelicidade e que uma economia orientada para o consumo “promove ativamente a deslealdade, solapa a confiança e aprofunda o sentimento de insegurança.”.
Como uma Hydra, a SC satisfaz cada desejo, cada vontade com tal incompletude que a pseudo-satisfação fomenta mais do mesmo, outros novos desejos e vontades: “O que começa como um esforço para satisfazer uma necessidade deve se transformar em compulsão ou vício”.
Vício encorajado, avidamente perseguido e propositalmente aporético, pois a promessa deve ser enganadora, ou ao menos exagerada: “O domínio da hipocrisia que se estende entre as crenças populares e as realidades das vidas dos consumidores é condição necessária para que a sociedade de consumidores funcione de modo adequado”.
O tempo todo, somos bombardeados com mais opções e ‘incríveis’ ofertas: “É o excesso da soma que neutraliza a frustração causada pelas imperfeições ou defeitos de cada uma delas e permite que a acumulação de experiências frustrantes [try again] não chegue a ponto de solapar a confiança na efetividade essencial dessa busca”.
Apostando na irracionalidade, a viciante ‘economia do engano’, como nomeia Bauman, não cultiva a razão, estimula emoções consumistas, relega o afeto. A fragmentação e o enfraquecimento dos vínculos humanos promove a maior atração da SC: outra rodada de compras!
Vislumbra-se uma vida de abundantes novos recomeços, novas chances e oportunidades de renascimento: “(...) a construção e reconstrução da autoidentidade, com a ajuda dos kits identitários fornecidos pelo mercado [confira a lista em nosso blog] continuará sendo a única estratégia plausível ou ‘razoável’ que se pode seguir num ambiente caleidoscopicamente instável no qual ‘projetos para toda a vida’ e planos de longo prazo não são propostas realistas, além de serem vistos como insensatos e desaconselháveis”.
O espaço que os consumidores líquido-modernos necessitam, diz Bauman, só pode ser conquistado expulsando outros seres humanos – em particular os que não se enquadram, os tipos que se preocupam ou podem precisar da preocupação dos outros.
Dotada de instrumentos de coerção e meios de persuasão ocultos, a SC avalia, recompensa e penaliza segundo a prontidão da resposta ao consumo, nos levando a perseguir esse objetivo de vida como sendo o alfa e o ômega de nossa existência.
Sórdido, desumano, o status de excelência ou inépcia ao consumo é reforçado como principal fator de estratificação e no maior critério de inclusão e exclusão.
Pautada por uma dinâmica perversa, a SC, além de orientar a distribuição do apreço e dos estigmas sociais (reduzido a poder ou não poder TER), confunde o ser humano, fazendo-o sentir-se inadequado, indigno, incapaz de SER.
 
 
 
A tendência à simplificação do que é a felicidade e do que pode tornar as pessoas felizes, própria da necessidade de criar demandas de consumo da sociedade atual, pode produzir uma redução dos diferentes sentidos e interpretações que a felicidade pode ter. “Tanto será menor a qualidade da felicidade, quanto mais se fala dela, neste caso”, diz o psicólogo Luciano Espósito Sewaybricker, autor da pes...quisa realizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP.
A definição variada do que é felicidade e a tendência à banalização que a sociedade impõe ao desejo de satisfação, ideia compartilhada pelo conceito de Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman, permitiram à Sewaybricker concluir que satisfação “em massa” e imediata não garantirá felicidade. Para a pesquisa, o psicólogo buscou conceituações da felicidade feita por alguns pensadores de variadas épocas para aproximar da Modernidade Líquida. A pesquisa, que começou em 2010 e foi finalizada em 2012, teve a orientação do professor Sigmar Malvezzi.
Pesquisa
Os pensadores do estudo foram: Platão, Aristóteles, Zenão de Cítia, Epicuro, Santo Agostinho, Bentham, Kant e Freud. Inicialmente, o psicólogo buscou nas obras destes homens respostas para quatro perguntas relacionadas à felicidade. No entanto, percebeu que não seria possível extrair, com as mesmas questões, os principais pontos relativos ao tema que pudessem servir à conclusão do trabalho. Entre os nomes estudados, alguns procuravam aproximar felicidade da virtude, do prazer ou do destino. O que foi possível, de alguma forma, admitir como comum a todos foi a ideia de que a felicidade é reconhecida como um ideal da existência.
Após análise de cada pensador, Sewaybricker conciliou essas definições à Modernidade Líquida de Bauman, porque acredita que este conceito faz um bom desenho teórico do que é a sociedade atual. Segundo Bauman, ao perseguir a “solidez”, ou seja, a estabilidade proposta pela modernidade, a sociedade percebeu que o “sólido” é inalcançável. Com isso, ocorreu uma flexibilização das metas de vida, o que foi metaforizado como “líquido”. Essa flexibilização leva a busca por laços transitórios, planejamentos a curto prazo e gratificações imediatas. No seu trabalho, Sewaybricker escreve: “Em meio à Modernidade Líquida, a humanidade encontra-se privada de uma destinação clara”.
Polissemia
Além disso, o levantamento dos conceitos dos pensadores levaram Sewaybricker a comprender a felicidade como um tema extremamente polissêmico. Seus múltiplos significados e interpretações impedem generalizações. Neste caso, a polissemia do tema pode ser interessante, porque leva a discussão à esfera individual, em detrimento à comunidade, ou coletividade, ou seja, cada pessoa tem sua condição de felicidade mais relacionada às suas concepções, realizações e desejos próprios, permitindo um aprofundamento das reflexões relacionadas. Com esta complexidade, é impossível definir uma fórmula da felicidade: cada um se considerará feliz da forma que lhe aprouver.
Por isso, a pergunta feita inicialmente na dissertação – “A atual organização social e do trabalho permite felicidade?”- perde o sentido, pois alguma felicidade sempre será promovida, devido aos diversos níveis e formas de satisfação possíveis. “Felicidade pode ser um meio termo ou um extremo entre aspectos individuais ou coletivos, entre ideais ascéticos e ontológicos, prazeres e virtudes” diz Sewaybricker, e acrescenta, “suprir felicidades não significa que você não volte a um estado de insatisfação”.
Imposição
A abordagem do trabalho permite uma reflexão crítica sobre a busca pela felicidade e os percalços e frustrações que idealizações podem trazer. “Procurei trazer clareza para um tema constantemente em pauta” diz Sewaybricker, que também aponta para a constante cobrança de que as pessoas se afirmem como felizes. Segundo o filósofo André Comte-Sponville, autor também estudado para o mestrado, a constante recorrência ao tema é um sintoma de que o homem moderno não é feliz. “Tanto se fala quanto menos se tem” diz o psicólogo, parafraseando o filósofo francês.
 
 
 
 
O que há de errado com a felicidade? A pergunta pode desconcertar – e é essa a intenção de Zygmunt Bauman. Um dos mais originais e influentes pensadores em atividade, Bauman reflete, neste novo livro, sobre os parâmetros que norteiam nossa busca pela felicidade – busca que, muitos concordarão, preenche a maior parte de nossas vidas.

Na sociedade atual, somos levados a acreditar que o propósito da...
arte da vida pode e deve ser a felicidade, embora não seja claro o que ela é. A imagem de um estado de felicidade muda constantemente e permanece como algo ainda a ser atingido.

Espera-se, acertadamente ou não, que todos nós daremos sentido e forma às nossas vidas usando nossos próprios recursos, mesmo se não tivermos as ferramentas mais adequadas. E somos elogiados ou censurados pelos resultados, o que alcançamos ou deixamos de alcançar.

A arte da vida não é um catálogo de opções de vida nem um guia prático. O que se espera para a vida e como alcançá-lo são, necessariamente, uma responsabilidade individual. Esse livro é antes uma exposição brilhante das condições sob as quais escolhemos nossos projetos de vida, das limitações que podem ser impostas a essas escolhas e do entrelaçamento de planejamento, casualidade e caráter que molda sua implementação. Não menos importante, esse é também um estudo de como nossa sociedade – a sociedade moderna de consumidores, líquida e individualizada – influencia a forma como construímos e narramos nossas trajetórias.

Um comentário:

  1. adorei! acabei de ver um video do café filosofico onde Bauman fala sobre a felicidade liquida. quero muito ler seus livros!

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